Monday, July 21, 2008

Lamento fetal II

Vivo
em um mundo de velocidade
onde
as pessoas vivem tão intensamente
que se esquecem
de viver.
Plantam sementes
aleatórias
que não germinam
e nada colhem.
Mundo hedonista
onde o conceito
de amor grego
é a velha nova religião
como Calígolas
devorando-se uns aos outros
sem descanso
ou fruição.


Vivemos
tão intensamente,
esperando a morte para amanhã
que vivemos toda a vida hoje.
Editada e decupada...


E se a morte não vier
amanhã, ao meio dia?
O que fazer?
Repetir o mesmo declato
e, simplesmente, reviver?
Viver um eterno deja vu?
Sentar e esperar,
simplesmente,
sem ter mais nada para viver?
Ou sair correndo
e atirar-se da janela
do nono andar
e morrer on line,
assistido por alguém
pela webcam?
Neste mundo de velocidade....


Banda larga
introjetada
no inconsciente coletivo.
Sexo medido
por metidas por segundo
como linhas de montagem,
criando velozmente novos seres....
ford T humano
deste admirável mundo novo...


Qual vantagem
de viver tanto hoje
se não houver
a esperança do amanhã?
Fazer da vida
um banquete sem tempero?
Viver
sem esperança
não é viver,
é desespero.


Viver de sonhos não é bom
Mas é bom sonhar.
Os sonhos
alimentam a imaginação
São o feto,
a peça angular
da realização.

Sonhos, inefáveis,
como toques,
como a penetração,
a sensação de estar em outro
e ficar ali, quietinho,
apenas sentindo,
por alguns instantes,
a delícia da unificação.



Estar em outra pessoa
por mais do que um segundo
e esquecer
que a vida corre
e tudo se bate
e se desvia
na velocidade
desmedida
do mundo


Somos formigas
em uma linha de trabalho
que se esbarram e se desviam
sem o menor trabalho
de perguntar:
"Quem são vocês?"
"De onde vieram?"


Neste mundo apressado
as feridas
são curadas por Mercúrio.
Não o remédio,
mas o deus romano da velocidade.

Lamento primal
de um jovem velho
como um animal
ou um Neandertal
que, envelhecido,
sente um mundo morrendo.
E teme
que a vida nova,
menos dantesca,
também seja
menos vívida
e mais artificial.


Findos a ironia
e o erotismo
das coisas simplesmente sugeridas
questionamos
até mesmo o Darwinismo.
Neste mundo surreal
tudo o que muda é programado,
sem a necessidade de adaptação
ou seleção natural.

oooohh,sim.....
masturbem-se,
misturem-se uns aos outros.
Que seja....
mas.......parem!!!


Sem pressa.......



...sintam
a textura,
a maciez
da pele humana.
A respiração do outro.
E não apenas a própria, ofegante,
como a do atleta
que busca a linha de chegada.


Banda larga
introjetada
em caos aéreo
e rodovias abarrotadas.
Toda a gente
voando e se movendo.
Tanta gente...
que ninguém mais voa ou locomove.
Em um mundo
tão louco e passageiro
que enquanto alguém nasce,
outro morre....


Mas nem por isso
é preciso
nascer morto,
morrer em vida
ou viver
de morte antecipada.
O melhor
é viver a vida
como uma taça...
bem servida
e degustada.


Mais carinho
e menos foda.
Mas encontro
e menos foto.
Mais beleza
que esperteza.
Mais amor
que salvação
de um cristianismo desprendido
de um novo deus pagão.


Alimente-se
de mim.
Devore-me...
sem pressa...
Deguste-me...
mas sorva
e absorva-me.
Descarregue-me
do fardo
de alimentar-me
de mim mesmo.

Ainda
que rasgado
pela fúria de outros dentes,
caninos
que mastigam
apenas
para satisfazer-se,
em uma dupla
de indivíduos separados...

Chega
de canibalismo.
Quero vegetais titânicos
e minerais de carne.
Pureza com sabor.
Alimento com tempero.
Carinho com tesão.

Imagem na internet é só imagem.
Foda pela foda
é apenas foda.
É preciso mais que isto.
Ser pulsante...
Ser crescente...

Ainda
que inconstante
na constância
de algo que,
acima de tudo,
apenas cresce
porque sente.

Que cada um
cuide do corpo
como bem o desejar.
Cada monge
administra
o próprio templo.
Transpiro apenas
a própria convicção
e uma ode
sobre o tempo.

Assim como
para a respiração,
antes
o choro é necessário,
para a evolução,
antes
é preciso
o grito primário.

Quem tem pressa
não vive tudo.
O coração mais veloz
não ama mais.
Enfarta.

Neste mundo
de velocidade.

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