Sunday, November 14, 2010

BUKOWSKI

Charles Bukowski
Nunca gostei de Bukowski. Adoro os beatnicks, mas Bukowski, sei lá...., nunca gostei. Não é pelo sexo, pela cafajestagem. Gosto de Sade e Nelson Rodrigues. Mas não de Bukowski. Na verdade, sei pq. Me faz lembrar aqueles amigos chatos e inconvenientes, que todo cara tem e que, em alguma época da vida, quando você está ocupado, chegam no teu ouvido, de mansinho, e começam a contar os seus dotes de sexo. Uma cena, antiga, de épocas de faculdade, me marcou perfeitamente o que pretendo dizer. Estava eu, sentado, na minha (pra variar) , tomando cerveja com algumas pessoas, quando um desses "amigos" chegou no meu ouvido: "Tá vendo aquela mina ali, a .....", apontando para uma garota sentada ali perto. "Me fez um puta boquetão ontem". Meio sem jeito, olhei pra cara dele, que me olhava com um sorriso de orelha a orelha. Até hoje, não sei o que ele esperava. Talvez que me levantasse e o cumprimentasse pelo feito. Talvez que o invejasse, por ser tão fodão. Só sei que não senti nenhum prazer pelo feito dele, que não me dizia respeito. Apenas duas coisas me passaram pela cabeça. A primeira: "sei lá se é verdade". A segunda:"Se fosse, talvez não tivesse sido grande coisa pra ela que, naquele dia, nem olhava na cara dele, como se nem o conhecesse. Nem um simples "oi"". Então, não sei qual a vantagem. Ler Bukowski me lembra esse cara.

Sexo casual, sei lá.....cada um, cada um....mas também me faz pensar em relógios, engenhocas mecânicas, escovar os dentes, beber água, urinar.....qualquer necessidade física sem grande importância. E sei bem o que é sentir o calor de estar dentro de alguém de quem gosta. De fato, são coisas distintas...
Respeito a cafagestagem. Se for criativa, humorada. Não essa, de gente arrogante, que precisa se auto afirmar, completamente inábeis de encontrar paz em si mesmas ('as vezes também perco a minha. Mas dou uma procurada, sei que está por aqui). Convívio é bom, enquanto sincero. Fora disso é trash. Fake, farsa e fofoca. Deixa quieto. Tapinha nas costas. Também já dei uns. Veneno não faz mal para cobras. Mas não gosto. Tenho evitado. Não é legal. Mas não entre amigos. Estes são tótens sagrados, com quem compartilho segredos e risos, que fazem sentido na vida. É isto que importa. O restoé superficial, passageiro, sem importância...
Gostar de alguém não impede o tapana bunda.Tudo é diversão, entre quem se entende. Entre quem vive a verdade. Qualquer coisa vale. Não gosto de Bukowski, mas recentemente comprei o livro novo do Nick Cave. Cafajestão bigodudo. Nele, o personagem chega em casa e encontra a esposa morta. Triste, pega ela nos braços. Repara no quanto os seios dela são lindos. Vai no banheiro e castiga o azulejo. Só então vai fazer os preparativos para o velório. Nick Cave, esse velho safado, como....Bukowski.
Nick Cave, seu velho safado !!!!!!!!!!!!

Segue, uma crônica de Humberto de Campos. Cafajeste maior, mestre do duplo sentido, desde o início do século passado. Sempre cito ele aqui. Um dia ainda escrevo algo decente sobre ele.
A INFLUÊNCIA DO MEIO

Não há, para os pais e noivas provincianos, perigo que mais os amedronte do que a cidade. A cidade, com os seus teatros, seus cabarés...com as suas mulheres tentaculares, atemoriza-os mais do que a onça, do que o perau do rio,, do que o dente do jacaré. Daí, o susto em que ficam as famílias. nos Estados, quando um rapaz ou um homem casado, ou mesmo um velho, faz uma viagem ao Rio de Janeiro.
Mortal como os outros, o Dico Monteiro, da Feira de Santana, na Bahía, resolveu, um dia reduzir a dinheiro uma fazendola que o pai lhe deixara, e sair, sozinho, como nos contos da "Baratinha" a correr o mundo. Lágrima não houve, nem de mãe, nem das irmãs, nem da avó, nem mesmo da Rosinha Viana, sua prima e namorada, que o demovesse daquele intento maluco.
- Toma cuidado, Dico! - pedia-lhe a mãe, com o coração repleto de pressentimentos. A côrte é um foco de perdião, meu filho !
- Te lembra de nós, Didico ! - gemiam as irmãs, atracadas com ele, duas de um lado, três do outro, sentadas na mesma rede, suprindo a deficiência dos conhecimentos gramaticais com a ingênua riqueza do coração.
-Reza pro Senhor do Bomfim te guiar, Mundico ! - aconselhava, batendo o queixo, a avó, a pobre dona Fortunata, com a certeza, quasi, de não mais ver aquele ingrato. E a Rosinha, meiga, terna, os olhos úmidos, o beicito tremente, com toda a doçura de sua inocência:
- Pelo amor de Deus, Dico! Não olha pra moça nenhuma, sim :
Um mês depois desembarcava no Rio de Janeiro, recomendado ao sr. senador Muniz Sodré, o Raimundo Costa Monteiro, fazendeiro na Feira de Santana. E sessenta dias mais tarde, era tal o aproveitamento do baiano, que o seu nome figurava com destaque em um conflito na Glória, onde havia ferido, a faca, por causa de mulheres, dois ingleses, um espanhol e quatro soldados da brigada policial.
Transmitida para a longínqua cidade sertaneja, a notícia causou, como era fatal, enorme sensação. E os comentários choviam. - Eu não disse! - exclamava dona Brígida, enxugando os seus tristes olhos maternais. - Com aquela mania de olhar a boca de quanta mulher enxergava, o Dico havia de fazer alguma asneira!
- Não era a boca, mamãe!, emendava a Luizinha, a irmã mais velha. O que impressionava o Dico quando via moças, eram os olhos delas!
-Que olhos que nada! - emendava a Tatu, um pouco mais moça - o Dico não se cansava era de olhar para os pés da gente, na igreja. Essa maluquice que ele fez no Rio foi por pé de mulher. Vocês hão de ver!
Foi por essa altura que entrou na sala de jantar, onde a família se achava reunida, o coronel Benedito Fagundes, antigo tabelião em Remanso. E as mulheres , em coro, expondo-lhe o caso, pediram sua opinião:
- Não acha, compadre, que foi por causa de um par de olhos :
- Não acha, padrinho, que foi por algum pé:
- O coronel não é de opinião que foi alguma boca :
Sitiado assim, o coronel passou a mão pelo queixo, ensaiando uma careta de dúvida.
-Não creio, não, comadre, - opinou. - Isso não foi nem boca, nem pé, nem olho, nem nada.
As mulheres fizeram silêncio. E o velho sentenciou, grave:
- Isso, comadre, só tem uma causa.
E cofiando o cavanhaque:
- Foi influência do "meio", do "meio"....
E olhou o teto, contando as telhas.


3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Seria Bukowski beatnick?
acredito que seja de outra geração...nada comparado a ginsberg ou kerouak!

11:57 AM  
Blogger acido ameno said...

Perdão, mas não fiz a analogia por geração. Não pensei por este lado, apenas pela liberdade de expressão. Ou será que penso que Sade e Nelson Rodrigues também são beatnicks? De qualquer forma, valeu!!!!! Inclusive, não precisa manter anonimato. Critica não mata.

9:37 AM  
Blogger acido ameno said...

O legal de ter opinião é dar a cara pra bater. Nenhum problema nisso.

9:42 AM  

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