QUANTOS ONTENS?
Nestes últimos tantos anos,
quantos ontens se passaram...
abanando
lenços lívidos de adeus,
em despedidas solitárias?
Quantas noites,
frágeis...
de esperança,
frio e fé...
esperando...
que a sucessão normal dos dias
traga uma resposta
ao que mal perguntado foi?
Como
uma pinga
de duplo sentido
trago
cada ontem guardado
em uma exposição
de imagens incertas,
organizadas
em galerias turvas
na contradição de cenas mortas,
transformadas em poesia...
Pode ser
qualquer coisa....
Em uma cena,
por exemplo,
a sombra ilógica
da solidão
recolhe corpos
enquanto
um anjo mimado
masturba
um cavalo inocente.
Em outra,
alguém,
assustado,
corre,
em chamas,
do diabo em pessoa.
Hoje
posso citar
Ovídio e Virgílio
mas não lembro
do toque dos lábios.
Há cansaço demais
em pouco tempo.
Mas, por enquanto,
não é hora de parar.
Algo ainda
precisa ser feito...
.
Senão fora,
pelo menos aí,
nesta selva cansada do peito.
Não, não, não...
não...
por favor, não pare...
continue batendo...
dentro do peito...
como um tambor,
um presságio ou um prelúdio...
Por isto
hoje
escreverei
versos mais tristes
que os mais tristes versos
de Neruda.
Com apenas
uma gota de tristeza
a cada noite.
Quantas noites
de ontem,
sangrentas e tristes,
espalhadas no pó?
O gosto rude da paixão
desfeita em espasmos...
Lembranças,
olhares,
marcas de orvalho,
detritos
e sangue pisado,
brilhando,
desfeitos
no início rubro
da noite vermelha.
Quantos anos
de ostracismo,
saudades...
vivendo como ostras,
com complexo do destino?
E, o que fazer?
Abaixar a cabeça?
Esticar, a você,
o dedo do meio?
Responder perguntas
que não terminam
em um ponto de interrogação
Preso
no fundo
de uma piscina vazia
observo
grandes azulejos brancos,
a luz do dia,
mas nunca
a saída.
E, apesar de tudo,
do inusitado,
sinto
minha alma seca,
não
como um deserto,
mas como
o olhar tedioso
do assassino.
Quantos ontens se passaram
desde a última vez?
Quantos ontens
o futuro ainda reserva?
Silenciosos e brancos
como uma cegueira otimista.
Broncos e licensiosos
como qualquer outra
infinita besteira.
E mesmo depois
de tantos ontens,
quantos homens
dez anos mais jovens,
não aparentam
ser mais homens que eu?
Quantos ontens se passaram
por onde
minha masculinidade
não passou?
No último abraço,
de costas
para a protagonista,
acabei beijando o ar.
No último beijo,
embrutecido
de amor platônico,
acordei
abraçado ao ar.
E quando
percebi meu engano,
pensei:
"Nem tudo está perdido!"
E respirei-o profundamente.
Mas gostaria
que você olhasse para mim
como uma lembrança...
algo que faz parte,
ou, ao menos,
como uma promessa....
Mas não
com estes olhos estrangeiros,
de transição...
Que já passaram
sem nunca encontrar
os meus.
No momento
quero apenas crer.
Não importa em que...
Em Deus...
em amor perfeito....
no "eu e você"...
...no momento...
....em discos voadores
sobre minha cabeça...
Em frases longas,
recheadas de texturas comestíveis...
no amor...
Sem ele
há apenas hoje,
sem ontem ou amanhã.
E hoje, realmente,
não há nada para fazer.
Então
brinco com a língua
da alma pátria...
entre os dentes,
em estridentes frases calmas
que me dizem:
-"Ainda há tempo!"
Então corro...
e alcanço
o amanhã.
Toco seu ombro
e pergunto:
-"E então?"
-"Sinto muito..."-
ele responde-
"mas sua chance
era hoje,
mas o hoje
já passou!".
Quantos ontens se passaram
nesta eterna lentidão?
Preciso sair...
Vou correr...
minha casa
cheira inanição
E quanto chego
a algum lugar
percebo
que esqueci algo em casa.
Aaaaaahhhh, Neruda...
ontem, finalmente,
revi algumas de tuas páginas
e, em um instante,
voltei a ter 15 anos,
quando te conheci.
Quanto tempo
tuas páginas aguardaram
por um novo toque dos meus dedos
no silencioso frio da estante?
Quantos ontens se passaram
por um caminho que não vi?
Matilde...
nunca troque
seu carinho por sementes
regadas de prantos.
Apenas
espalhe suas sementes
com carinho.
Assim os prantos
serão abortados
naturalmente...
Quantos ontens?
Quantos ontens?
Quantos ontens?
Quantos ontens...
se repetirão
inutilmente?
Quanto ainda
se repetirão
até perceber
que é possível
ser feliz,
mesmo sofrendo?
Quantos corpos
os dedos
precisam tocar
apenas
para sentir que é hoje
e ainda há vida?
Ao menos um,
todos os dias.
Mas o coração bombeia sangue
mais rápido que os segundos.
E o mundo
explode em sangue
em bombas que explodem
a cada segundo.
E, em meio
a tantas portas fechadas,
onde encontrar
a chave universal
do coração?
Quantos ontens
ainda passarão
até que acredite
na promessa
do amanhã?
quantos ontens se passaram...
abanando
lenços lívidos de adeus,
em despedidas solitárias?
Quantas noites,
frágeis...
de esperança,
frio e fé...
esperando...
que a sucessão normal dos dias
traga uma resposta
ao que mal perguntado foi?
Como
uma pinga
de duplo sentido
trago
cada ontem guardado
em uma exposição
de imagens incertas,
organizadas
em galerias turvas
na contradição de cenas mortas,
transformadas em poesia...
Pode ser
qualquer coisa....
Em uma cena,
por exemplo,
a sombra ilógica
da solidão
recolhe corpos
enquanto
um anjo mimado
masturba
um cavalo inocente.
Em outra,
alguém,
assustado,
corre,
em chamas,
do diabo em pessoa.
Hoje
posso citar
Ovídio e Virgílio
mas não lembro
do toque dos lábios.
Há cansaço demais
em pouco tempo.
Mas, por enquanto,
não é hora de parar.
Algo ainda
precisa ser feito...
.
Senão fora,
pelo menos aí,
nesta selva cansada do peito.
Não, não, não...
não...
por favor, não pare...
continue batendo...
dentro do peito...
como um tambor,
um presságio ou um prelúdio...
Por isto
hoje
escreverei
versos mais tristes
que os mais tristes versos
de Neruda.
Com apenas
uma gota de tristeza
a cada noite.
Quantas noites
de ontem,
sangrentas e tristes,
espalhadas no pó?
O gosto rude da paixão
desfeita em espasmos...
Lembranças,
olhares,
marcas de orvalho,
detritos
e sangue pisado,
brilhando,
desfeitos
no início rubro
da noite vermelha.
Quantos anos
de ostracismo,
saudades...
vivendo como ostras,
com complexo do destino?
E, o que fazer?
Abaixar a cabeça?
Esticar, a você,
o dedo do meio?
Responder perguntas
que não terminam
em um ponto de interrogação
Preso
no fundo
de uma piscina vazia
observo
grandes azulejos brancos,
a luz do dia,
mas nunca
a saída.
E, apesar de tudo,
do inusitado,
sinto
minha alma seca,
não
como um deserto,
mas como
o olhar tedioso
do assassino.
Quantos ontens se passaram
desde a última vez?
Quantos ontens
o futuro ainda reserva?
Silenciosos e brancos
como uma cegueira otimista.
Broncos e licensiosos
como qualquer outra
infinita besteira.
E mesmo depois
de tantos ontens,
quantos homens
dez anos mais jovens,
não aparentam
ser mais homens que eu?
Quantos ontens se passaram
por onde
minha masculinidade
não passou?
No último abraço,
de costas
para a protagonista,
acabei beijando o ar.
No último beijo,
embrutecido
de amor platônico,
acordei
abraçado ao ar.
E quando
percebi meu engano,
pensei:
"Nem tudo está perdido!"
E respirei-o profundamente.
Mas gostaria
que você olhasse para mim
como uma lembrança...
algo que faz parte,
ou, ao menos,
como uma promessa....
Mas não
com estes olhos estrangeiros,
de transição...
Que já passaram
sem nunca encontrar
os meus.
No momento
quero apenas crer.
Não importa em que...
Em Deus...
em amor perfeito....
no "eu e você"...
...no momento...
....em discos voadores
sobre minha cabeça...
Em frases longas,
recheadas de texturas comestíveis...
no amor...
Sem ele
há apenas hoje,
sem ontem ou amanhã.
E hoje, realmente,
não há nada para fazer.
Então
brinco com a língua
da alma pátria...
entre os dentes,
em estridentes frases calmas
que me dizem:
-"Ainda há tempo!"
Então corro...
e alcanço
o amanhã.
Toco seu ombro
e pergunto:
-"E então?"
-"Sinto muito..."-
ele responde-
"mas sua chance
era hoje,
mas o hoje
já passou!".
Quantos ontens se passaram
nesta eterna lentidão?
Preciso sair...
Vou correr...
minha casa
cheira inanição
E quanto chego
a algum lugar
percebo
que esqueci algo em casa.
Aaaaaahhhh, Neruda...
ontem, finalmente,
revi algumas de tuas páginas
e, em um instante,
voltei a ter 15 anos,
quando te conheci.
Quanto tempo
tuas páginas aguardaram
por um novo toque dos meus dedos
no silencioso frio da estante?
Quantos ontens se passaram
por um caminho que não vi?
Matilde...
nunca troque
seu carinho por sementes
regadas de prantos.
Apenas
espalhe suas sementes
com carinho.
Assim os prantos
serão abortados
naturalmente...
Quantos ontens?
Quantos ontens?
Quantos ontens?
Quantos ontens...
se repetirão
inutilmente?
Quanto ainda
se repetirão
até perceber
que é possível
ser feliz,
mesmo sofrendo?
Quantos corpos
os dedos
precisam tocar
apenas
para sentir que é hoje
e ainda há vida?
Ao menos um,
todos os dias.
Mas o coração bombeia sangue
mais rápido que os segundos.
E o mundo
explode em sangue
em bombas que explodem
a cada segundo.
E, em meio
a tantas portas fechadas,
onde encontrar
a chave universal
do coração?
Quantos ontens
ainda passarão
até que acredite
na promessa
do amanhã?
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