Saturday, November 11, 2006

LONELY...(ou Uma coisa é uma coisa;outra coisa é outra coisa)









"Lonely is an Eyesore", algo como "Solidão é dor na vista", já dizia o título da coletânea britânica de bandas tristes dos anos 80. Ainda me lembro quando o disco ainda era novidade. Foi por ele que conheci uma das bandas que se tornou uma das minhas preferidas desde sempre: o Dead Can Dance. Conheci pela TV, na madrugada adolescente de um sábado, quando vi o clip de "The protagonist", música registrada apenas na tal coletânea. O que era aquilo? Fiquei imaginando quem poderia ter gravado aquela música instrumental, mórbida e triste, cheia de cellos e metais. Em um primeiro momento pensei em Vangelis, mas não tinha muito a ver... "O cara é tecladista, pô!!!!". E não torçam o nariz se acharem que o grego é apenas o autor da melosa "Chariots of fire", ou "a trilha sonora de qualquer olimpíada ou corrida de São Silvestre nossa de cada ano". Alguns discos do cara são bem densos e bacanas e não mereciam ficar datados com bichogrilagem dos anos 70. Um pelo menos, chamado "Heaven and Hell", ainda acho bem relevante....


Mas, voltando ao "Protagonist", do Dead Can Dance... Quem faria um clipe daqueles, naqueles anos 80 cheios de laquês e cabelos coloridos e ombreiras? Um cara nu, se afogando, em uma praia deserta... Mesmo hoje, consigo imaginar apenas duas bandas capazes de um clipe daqueles... Radiohead e Sigur Ros. O Sigur Ros, inclusive, chegou a fazer um clipe com alguém se afogando, mas é salva por outra pessoa, ao contrário do protagonista do Dead Can Dance. Mas tudo bem... o Sigur Ros também já ousou fazer clipes só com crianças portadoras da síndrome de down dançando, vestidos de anjos, e com meninos adolescentes descobrindo a própria homossexualidade. Enfim... abusos típicos da música pop islandesa (Bjork que o diga...). Os meninos tristes de hoje, os "emos", jamais ouviriam aquilo. Seus ídolos jamais gravariam algo como "The protagonist". E não ouviriam Dead Can Dance. Como não ouvem Sigur Ros.

E falando em cabelos negros, curtos e lisos, recentemente revi "A liberdade é azul", o filme mais triste da triste trilogia das cores (junto com "A igualdade é branca" e "A fraternidade é vermelha". Se os emos fossem realmente sérios e tristes, diria que a Juliette Binoche, em "A liberdade é azul"

seria a precursora do "movimento". Mas também acho o nome do filme equivocado. Acho que a "liberdade" do filme serve apenas para completar a referência ao lema (igualdade, liberdade e fraternidade) e cores (branca, azul e vermelha) da bandeira da França. Desde quando perder toda a família em um acidente de carro e passar o resto dos dias dormindo em no colchão de um apartamento solitário, vendo ratos procriando, pode ser chamado de "liberdade"? Para mim é apenas solidão. Nem liberdade, nem dor na vista, apenas solidão...

Feitas as devidas ressalvas, acho que o filme devia se chamar "A solidão é azul" e não "A liberdade..." Quanto à coletânea britânica de bandas tristres dos anos 80, digo que se solidão fosse dor na vista, oculista receitava Valium, não óculos...

DEAD CAN DANCE

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