Monday, March 16, 2009

QUASE UMA FÁBULA (OU A HISTÓRIA DE BART)

Mais um dia de trabalho. Abro a porta de casa, enfastiado. Neurótico. Esquizofrênico. Enfim... um cara normal. Quando entrei, ela já estava lá, me esperando. Não sei há quanto tempo, mas estava lá. Inerte, apenas me olhando, fixamente.
Até tentaria compreendê-la, saber o que se passa, olhar fixamente nos seus olhos. Mas, infelizmente, isso não seria possível. Não sei exatamente onde ficam. Nela. A barata.
Não é a primeira vez que nos encontramos. Afinal, habitamos a mesma casa. Apenas, como casais que não mais se suportam, evitamos compartilhar o mesmo cômodo. Se estou na sala; ela, na cozinha. Se está no banheiro e eu entro, sai correndo. Não conversamos. Não há palavras. Nada a ser dito.
Mas, naquele dia, eu estava resolvido. Estava decidido. Daria um basta àquilo tudo. Fiz o que todo jornalista que se preza faz quando tem oportunidade e se vê de frente do monstro e da aberração. Tirei o sapato e joguei nela. Mas ela correu, a esperta. Errei. Mas desta vez, ao contrário das anteriores, eu estava obstinado. Com a fúria homicida de quem precisa descontar as próprias frustrações, fui atrás. Ela correu. Tentou se esconder no quarto. Mas eu não podia....não podia parar. Nada mais me importava e nada tinha mais a perder. Não era a primeira vez Ela já havia tido outras oportunidades e desperdiçou, permanecendo ali, na minha casa. Afastei a cômoda. E ela estava lá. Encolhida de medo. Esperando. Mas quando decidi aplicar o golpe final, hesitei por um segundo. Ela reuniu forças que talvez nem soubesse que ainda existiam e correu novamente. Será que ela não entendia que não se deve aparecer assim, do nada, na frente de um ser humano? Eles matam....sem motivo...sem ser para comer. Matam, simplesmente, a si mesmos, uns aos outros. Apenas matam. Justo ela, que tem tantas condições de viver a mais do que eu. Se perco a cabeça, morro na hora. Ela sobrevive 30 dias e morre apenas de fome. Em uma explosão nuclear, eu morro. Ela fica. No entanto, com o mínimo de esforço posso mata-la. Mesmo sabendo que ela é a única coisa viva em minha casa, além de mim. E mesmo cercado de coisas mortas, tento matar a única coisa que ise movimenta e se alimenta, próxima de mim. Procuro justificativas. Ela transmite doenças. Sou altamente salubre. Nunca comi no MacDonalds. Nunca troquei saliva com estranhos e muito menos secreções corpóreas. Deus me livre e guarde!!!! Mas ela sumiu. Em algum lugar no quarto onde não durmo. Desta vez passa, pensei. A deixarei viver. Mas ficará ali, trancada. Fechei a porta e coloquei um tapete no vão, por onde ela poderia passar. Talvez morra de fome. Talvez não. Talvez eu a mantenha lá presa, como um psicopata. Talvez mude de idéia e a liberte e compartilhe o sofá com ela, enquanto lemos livros ou bebemos vinho, assistindo a alguma série de TV. Caso mude de idéia, começo a pensar em um nome. Penso em Bart. Um bom nome. Se Matt Groening me processar, digo que sou fã dos Simpsons. Sim. Bart, a barata. Ou talvez ... barata Obama, em homenagem aos cucarachas... Sei lá....Aceito sugestões !!!!

1 Comments:

Blogger Rosa Pellegrino said...

Huahuahuahuahua, só você mesmo! E morte as baratas!!!

1:25 PM  

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