Thursday, June 01, 2006

MOÇÃO PELA LIBERDADE DAS EMAS

Esta é da categoria "relatos pitorescos do cotidiano". Qual absurdo não foi meu espanto ao sair de casa, no último sábado, me deparar com centenas e centenas de "emos" e "emas", em um batalhão de franjas negras escorridas e adolescentes invadindo as ruas do quarteirão onde moro? Uma eclosão de meninos e meninas alienígenas com seus corinhos emotivos e baladinhas de tristezas alegres. E eu, tiozinho, passando incólume com meus óculos e minha blusa de lã, por aquela multidão de olhinhos pintados de preto e roupinhas cuidadosamente rasgadas. Pitoresco. Divertido. Era a notícia na porta de casa. A invasão do hardcorizinho triste às ruas da Mooca e adjacências. Emos por todos os lados. Brincando de ser rebeldes, senão com intensidade, ao menos mais que a melosa novela homônima criada por um bando de marqueteiros chicanos. E lá estava eu, carregado pelo furaçãozinho infanto-sentimental, perdido dentro do pacato supermercado onde compro meu queijo, em meio a uma multidão de meninos tristes, todos divertindo-se, sorridentes, devorando assombrosamente os estoques de cheetos e smirnoff ice. Algumas velhinhas assustadas com aquela multidão de crianças estranhas e eu, sem saber em que time jogar...
Curioso vê-las comprando dezenas e dezenas de garrafas de smirnoff. Combina com a candura da geração, diferente da minha, que preferia o conhaque e a Vodka. Ponto para eles. Não vomitam ou acordam misteriosamente machucados no dia seguinte e não frequentam o pronto-socorro mais próximo, em coma alcoólico, aguardando alguém mal-humorado que injete glicose na veia. Nunca injetaram na minha, até pq odeio injeções, mas estive presente em muitos desses momentos. Embora idolatrem música e ídolos que, ao meu ver, pareçam insípidos e inconsistentes, pelo menos não se enforcam com cordas baratas como os ícones da minha geração. Se são tristes, o são por acaso, por simples brincadeira.
Falando em acaso, ainda há pouco, redigindo um texto no jornal onde vivo (ou no apê onde escrevo, sei lá...), procurando o endereço da PUC de Campinas para um texto, o que vejo? Uma foto do meu amigo Reinaldo, abraçando o Odair José (ele já tinha me falado q sua banda ia participar de um tributo ao cantor). Mais um fato bizarro da categoria "relatos pitorescos do cotidiano". O Rei é engraçado... não preciso saber dele, como vai sua vida, se está bem. O acaso me conta. Essa já é terceira. Na segunda, descobri, pelo DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, que ele ia tocar. Na primeira, em uma revista qualquer, mezzo-alternativa-mezzo-metal, , que ele estava de passagem pelo velho continente. Pitoresco. Mas, embora não acredite tanto em coincidências, não poderia perder a oportunidade de citar o velho e bom Mallarmé que, em sua bela e vã filosofia de arte pela arte, nos ensina "que um lance de dados jamais abolirá o acaso". Pois é...

E só para dar uma credibilidade ao meu papo dos emos e emas, transcrevo uma parte de matéria publicada no Diário de São Paulo de 28 de maio:

SHOW DE ROCK É CANCELADO POR FALTA DE ALVARÁ - A subprefeitura da Mooca, na Zona Leste, impediu ontem a realização de um show de rock na Fábrica Eventos, na Rua Barão de Jaguara, por falta de alvará de funcionamento e segurança. O cancelamento da festa revoltou os cerca de 8 mil adolescentes que superlotavam a casa. Houve gritaria, protestos e muitos vidros quebrados. Ninguém ficou ferido (etc.)

Resultado - Os emos e emas não são tão calminhos assim, mas são muito mais do que se esperaria da geração do conhaque e da vodka. E de tão insípida, ficaram sem música. E ficaram tristes. Mas, eu vi... foram embora sorrindo!!!!