Monday, August 29, 2011

Sunday night (nada a ver com sorvete noturno)

E naquela noite tudo parecia vazio. Nada a ser dito, embora o coração insistisse em que algo deveria ser contado. Algo ruminava em seu interior e precisava de ar e liberdade e compreensão para deixar de ser silêncio. O verbo necessitava se fazer. Como um recém-nascido necessita do grito e do choro. Para sentir o ar e a vida invadir cada limítrofe espaço desprovido de oxigênio. Uma sensação nova e agradável, como ler um poema inédito de Leonard Cohen.

E assim como a vida nasce, sem nenhum plano ou promessa, mas cheia de esperança, o texto aflora, mesmo sem tema ou assunto. Afinal, é algo que vive e pulsa, como o sangue expelido nos batimentos do coração...

E, de repente, o texto se sente solitário e pede a seu autor a presença de um personagem, assim como o homem original implorou a dEUS a presença da primeira mulher.

E o autor, relutante, escolheu personagens... Lembrou-se de pessoas vivas na memória, mesmo distantes. Sua ex-mulher, que carrega sua vida cotidiana, realizando coisas que o autor, por algum motivo, se ausentou de participar. Seu amigo de infância, muito querido, embora ligue nas impróprias horas da madrugada do domingo, na hora do sono incômodo que precede a rotineira segunda. Aquele velho amigo que não vê há anos, com sua família e suas crianças. A última mulher que te fez sentir algo, um sopro de vida, embora também tenha apenas ensinado o quanto ele podia se fazer de otário.

O tempo passa. E tudo se torna mais silêncio com os anos. Cabelos caem ou se tornam grisalhos. Pessoas se afastam e geram pessoas, para que, no futuro, ocupem seus espaços quando partirem. E o mundo, que não envelhece aos olhos humanos, apenas gira, para se manter vivo, enquanto assiste, simultaneamente, bilhões de comédias particulares.

E ela se aproxima, na imaginação, com seu rosto curioso e seu corpo pequeno e esbelto. E, franzindo a testa, pergunta ao autor: "Por quê ?" Ao qual ele responde: "Não sei". E apenas a eles cabe entender o significado deste diálogo, visto que é íntimo e particular.
E ela se afasta, enquanto o autor volta a sí, dissipando sua própria imagem e retornando ao ausente momento instantâneo, à insistente caneta, brinde azul da smurfética empresa onde trabalha, que discorre sensações espontâneas, apenas com pequenas pausas, quando a tinta falha. Afinal, brindes tendem a ser utensílios imperfeitos....

E há tanta coisa que gostaria de dizer. Mas não neste texto, mas às pessoas. Mas pessoalmente as palavras falham mais que a tinta da caneta de brinde, embora sua vida e seus sentimentos não lhe pareçam tão ocasionais e baratos...

E nestes casos, as palavras certas continuarão perdidas, embora ele as procure, na esperança de um dia certeiro. E que os erros e falhas apontem a combinação correta e o instante preciso. Por enquanto, apenas silêncio...

E a caneta, ao pé da página, que silencia, enquanto empurra o papel rascunhado para o lado da cama e fecha os olhos, procurando apenas, neste silêncio, um pouco de paz, qnaunto adormece, de encontro ao sono incontínuo que precede a manhã de segunda...

O telefone toca ....

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