Friday, November 04, 2011

LOVE BEACH


"Estilo" talvez seja uma das palavras mais perigosas do dicionário. Embora subentenda-se dela o conceito de elegância, também é possível subentender o de supremacia que, mesmo no dicionário, também está muito próxima da palavra segregação, embora, por definição, estaria mais corretamente próxima da palavra gênero. Em um mundo plural e respeitoso deveria significar apenas uma escolha, entre infinitas possibilidades, sem qualquer grau de subordinação. Porém, como o individualismo e a insegurança fazem com que as pessoas necessitem competir, acaba se tornando uma disputa de gostos, autoafirmação.
É correto que todos precisem se autoafirmar, mas tanto ego é desnecessário. Opções são saudáveis e merecem respeito. Mesmo em se tratando de gênero, a palavra estilo pode gerar confusão e preconceito. Como atualmente estou muito a fim de falar apenas de música, como exemplo de tudo no universo, aqui vai....
E lá vem Pink Floyd na cabeça e aqui vai minha dúvida (comprar ou não a caixa Discovery) , ou melhor, meu exemplo. Em março, Roger Waters fará shows em São Paulo. A turnê The Wall, na Argentina, já superou, em termos de venda de ingressos, a última passagem dos Rolling Stones na terra dos hermanos. E se falo em Pink Floyd, todos pensam em uma grande banda clássica de Rock. Mas se falo em rock progressivo, todos torcem o nariz ao rococó sinfônico do estilo, sem se dar conta que Pink Floyd é apenas a banda mais conhecida do gênero. Mas Pink Floyd é sempre lembrado como Rock, nunca como progressivo. Em compensação, se falo Yes ou Emerson, Lake e Palmer, todos pensam em progressivo (blargh) , não em rock.
Realmente, Yes e ELP caracterizam tudo o que é considerado mau gosto no progressivo. A pretensão, os exageros, a breguice e excesso de virtuosismo desnecessário. Nada mais característico do que a capa do último disco da fase "áurea" do ELP: o disco Love Beach. Os três caras sorrindo, com as mãos na cintura e as camisas abertas, exibindo os peitos peludos. Muito "estiloso". Mas, inacreditavelmente, alguém gostou tanto da idéia que a capa existe (embora a banda tenha caído no ostracismo após o episódio).
Preconceitos à parte, a capa apenas não condizia com o estilo musical, que trazia a pretensão de ser uma música "culta", "superior". A mesma capa não causaria espanto algum em um disco, por exemplo, do Bee Gees.
O mais triste é que a pretensão e os deslizes de alguns tenham comprometido a carreiras de bandas muito mais interessantes, simplesmente por serem taxadas de "progressivas", com ELP e sua Praia do Amor.
Em 1969, ao lançar seu Bitches Brew, Miles Davis foi odiado por muitos "puristas" do jazz, acusado de ter "traído" o estilo. Pois é, ele estava apenas reinventando o "estilo", ao criar o fusion, a mistura primordia do jazz com o rock.
Mas...por que mudei de assunto tão bruscamente, do rock progressivo para jazz ? Simplesmente pq muitas bandas "progressivas" estão muito mais ligadas ao jazz do que a ELP e música clássica. John MachLaughin, guitarrista de Miles Davis em Bitches Brew (e nome de uma das músicas do disco), posteriormente montou sua própria banda, a sensacional Mahavishnu Orchestra, que pode ser encontrada em qualquer loja especializada em .....progressivo.

E tem mais... Soft Machine, uma banda seminal do estilo, que iniciou sua carreira em casas underground londrinas tocando junto com o Pink Floyd, firmou sua carreira no conjunto sax, baixo, bateria e teclados. É conhecida como "progressiva". Quem procura conhecer o estilo mais profundamente, já ouvir dizer que o Soft Machine é a banda mais famosa do estilo "Canterbury Sounds", simplesmente pq muitas bandas formadas na cidade passaram a seguir o estilo do Soft Machine.

Enquanto isso, na França, outra banda "progressiva", o Magma (não confundir com a banda homônima argentina, que é horrível) , criou seu próprio "estilo", partindo da influência de John Coltrane (JAZZ). Embora goste muito, reconheço alguns exageros na banda, ao misturar tudo com vocais líricos (rock+jazz+ópera) e, principalmente, por criar uma língua própria, o Kobhaian. Porém, um dos bateristas do Magma, Daniel Dennis, montou outra banda, o Univers Zero (jamais confundir com NXZero) , que, embora seja "progressiva", ainda é mais fiel ao jazz que o Magma. E então surgiu mais um "estilo", o Rock in Oposition, junto com outras bandas progressivas que tocavam jazz (simples assim),. como o Henry Cow, Art Zoyd e Present (formada por um guitarrista que saiu do Univers Zero, Roger Trigoux). E o que diferencia o Rock in Oposition do som de Cantenbury ? Boa pergunta... apenas que foram bandas que tocaram em um festival chamado Rock in Oposition e tenha se popularizado mais na Bélgica, graças ao Univers Zero e Present, embora o festival tenha ocorrido na Inglaterra. O Henry Cow é considerado Rock in Oposition (pq organizaram a bagaça toda), embora seja inglesa.
O próprio Bowie, um dos maiores ícones de estilo e bom gosto do século XX (e XXI, pq não?) foi um dos criadores do Glam Rock, junto com Brian Eno e Lou Reed, que acabou gerando crias bizzaras (em termos visuais, digo), como Twisted Sisters, New York Dools e outras bonecas do rock.
Hoje, Lady Gaga se diverte e enriquece fazendo do Kitsch e do bizarro algo moderno e estiloso. Provavelmente, daqui a alguns anos será considerada tão de mau gosto quanto as ombreiras e mullets dos anos 80. Tudo uma questão de "estilo". Supremacia. Tudo tão fashion e volúvel quanto as tendências de cada estação.
ELP, no melhor estilo "mamãe, olha como eu sou gostoso."






0 Comments:

Post a Comment

<< Home