Ácido Ameno

Tuesday, October 10, 2006

SUBLIME (ou poema para propaganda de margarina)

Segundo
a teoria do caos
quando assopramos
as pétalas de uma flor
podemos
estar dando vida a um tornado
que tirará vidas
do outro lado do mundo.

São
gestos pequenos,
pequenos detalhes...
tomando importância
em encaixes perfeitos.

Se alguém
de quem você gosta
gosta de um filme
que você também gosta,
mas nem tanto de você
quanto do filme,
ainda assim
isso é perfeito,
pois guarda mais gostar
do que não gostar.
E isso é lindo.


E não há sangue ou penumbra
que pague
a beleza dos olhos
de um homem feliz.
Portanto, são raros
como diamantes
e cegos
como o amor.

É o azul propagado
pelo céu...
pelos olhos bonitos
da moça na foto...
nos tons da caneta...
na cor do planeta...
no fato
do lábio
que roça
outros lábios
vermelhos
como uma rosa.


E se há dor
é porque há vida.
E isso é bom.
Não há vida sem dor.
Mas se também há dor
onde não há vida
é apenas
outro tipo de dor.


Celebre-se sonhos
com olhos despertos
para que gerem sementes
e frutos reais
mesmo colhidos
em outro verão
por braços dormentes.
Pois
sublime é o sol.
Celebre-o.



Celebre
o instante
antes que parta...
Está indo...
Já foi...
Abra mais portas
e distribua
seu coração como doces
entre os amigos.


Dê mais bons dias,
mas não com palavras,
secas e frouxas,
mas com sorrisos e olhares,
com toques nas mãos,
com carinho e calor.
Pois sublime
é o som
de um sorriso.



Acorde mais cedo
apenas para respirar.
Encha o pulmão e respire
apenas para devolver
para a atmosfera
um pouco do ar
que foi seu.


E lembre-se
se você
ainda não foi escolhido
é porque só no outono
o melhor fruto
é colhido.


Se encolha no inverno
e se esparrame no verão
como uma poça de sonhos
sublimes.


Acorde cedo
e ceda abraços,
ternos e leves
como folhas de seda.
Sob o sol,
leve seu terno
embaixo do braço
para que se torne mais leve
e não mais
rijo e pesado
como uma armadura.

Beije seu filho.
Ele é você
em outra versão.
Brinque com ele
e permita-se
ser um pouco criança de novo
nesse outro corpo
que ainda também
é um pouco você


E quando, com os anos,
as diferenças surgirem
entenda
que as mudanças são necessárias
para a evolução.
Do atrito entre coisas
surgiram
o fogo e a roda.

Seja fiel a quem ama
e tenha um cão,
pois ele tem muito a ensinar
sobre lealdade.
Ame o céu de cada estação
e o solo de cada lugar.
É para isso que servem
os olhos e os pés.

Ouça música
Não apenas a que expele e extravasa,
mas a que penetra nos poros
e atravessa a alma.
Mas também ouça
a música
no timbre da voz
de quem você ama,
em um momento de paz.


E ame...
pois amar
é simplesmente
uma vontade intensa
de cuidar e proteger...
delicadamente...
como este poema...


Aos 34 anos,
volto a ter 17
e retomo a esperança de então.
E descubro
que 17 anos
passam em segundos.
E que grandes decisões
não chegam a uma por ano.
Embora
pareça que as tomamos
a todo instante
quando decidimos
que queremos batatas fritas
e não um simples pastel.


Mas
somos sublimes...
como
uma folha de árvore
levada ao vento
ou o esqueleto
que já existe
em seu rosto
e apenas ainda
não pode ser visto.