Ácido Ameno

Friday, November 04, 2011

Etéreo



E já que estou inspirado para falar em estilos musicais, apenas falar em jazz, progressivo e glam rock não me satisfaz. Tenho ouvido muito dois estilos não muito difundidos e, ainda assim, infelizmente,mal classificados, sendo taxados simplistamente de "góticos", mesmo não tendo nada a ver com Sisters of Mercy, Bauhaus, The Cure, Joy Division ou Siouxsie e the Banshees.

Estou falando das bandas de música "éterea" ou de "neo-clássico" (há diferenças).

Nestes estilos, o que predomina é a utilização de instrumentos clássicos ou medievais, como violinos, cellos, violas, geralmente com vocais femininos ou simplesmente sem vocais. Nada de guitarra, baixo ou bateria. Me recordo de uma resenha muita antiga, da nostálgica revista Bizz, ao divulgar o primeiro disco de uma das mais antigas bandas "étereas", a francesa Collection Darnell-Andréa: "Isso é bom. Mas...definitivamente, não é rock".
Particularmente, acho que as principais diferenças entre "étereo" e "neo-clássico" é que o primeiro ainda faz algumas concessões ao pop, ao utilizar mais vocais e, em alguns casos, instrumentos eletrônicos, como as bandas Chandeen e Love Spirals Downwards. A última chegou até a lançar discos com músicas dançantes, próximas ao techno. Já o neo-clássico é basicamente instrumental e nada, nada dançante, chegando a soar fúnebre, em alguns casos.

Os dois gêneros chegaram a se popularizar relativamente em meados dos anos 80, principalmente graças a gravadora inglesa 4AD, que lançou algumas bandas etéreas mais conhecidas, como o Cocteau Twins, o This Mortal Coil e Dead Can Dance. Talvez a alcunha gótica tenha prevalido por causa da época (um dia foi chic ser gótico) e pelo fato da gravadora ter obtido maior reconhecimento ao lançar o primeiro disco do Bauhaus (inegavelmente gótica).

Independente de épocas e estilos, a música é atemporal e deve perdurar, se for boa. tualmente,
muitas bandas têm surgido, em locais mais diversos do mundo, como Itália, França, Espanha, Portugal, México e até Argentina. Em todos estes locais existem ou existiram bandas sem essa preocupação pop, primando um estilo mais calmo, com influências clássicas, algo como uma espécie de "New Age" revisitada, sem o "deslumbramento" de "esperança do novo milênio", que ao chegar, acabou com a festa desse povo. Talvez, uma New Age às avessas, um tanto mais triste, um tanto mais fúnebre.
Embora estas bandas tenham se tornado conhecidas a partir dos anos 80, uma banda italiana, chamada Jacula, já fazia este tipo de som nos anos 60 (acabaram rotulados de progressivos nos anos 70, embora o som não tivesse absolutamente nada a ver com isto). Em "Tardo Pede in Magiam Versus", de 1969, o Jacula já fazia música "espiritual" como denominavam, basicamente com flautas, violinos, baixo algumas vezes e, principalmente órgão de tubo, aqueles que só existem em igrejas e podemos ver em São Paulo, na Catedral da Sé. A banda chegou ao cúmulo de possuir em sua formação nada menos que......um médium... Imagina ...... os caras tocando e descendo espírito no maluco.... O pior ..... o motivo do fim da banda...... o médium MORREU !!!!!! A pergunta...em quem ele iria incorporar? O mentor da banda, Antonio Bartocetti (provavelmente com o "cu na mão") resolveu formar uma outra banda, só um poquinho mais certinha.,..o Antonius Rex... Porém, justamente em 2011, apenas 40 anos após o fim do Jacula, o 'esquisito" (mas que não deixo de ouvir) Bartocetti reaparece com um novo disco do Jacula (esse aí de cima).

Mas para encerrar, apenas queria lembrar de mais algumas bandas que gosto, nenhuma muito conhecida, mas que considero todas muito bacanas (sempre lembrando que nada é alegre e muito dançante e que devem apenas ser ouvida no sossego do lar, de preferência sem que algum vizinho possa ouvir e pegunte quem morreu. Não... não é o Frank Aguiar (segunda vez que cito ele....será algum tipo de paixão ? Uauuuuuu..)
Pois bem ..., em termos do que considero etéreo, alguns bons exemplos que me vêm à cabeça no momento são o Black Tape for a Blue Girl (EUA), Love is Colder Than Death (UK), Mellonta Tauta (Argentina), Jaramar (México - e ainda mistura tudo com folclore local), Ordo Equitum Solis (itália, muito influenciado por Jacula), Dark Santuary (sei lá), Glimmer Void (Grécia), Moon and Nightspirit (Portugal), Echodalia (Espanha), Sorrow (Inglaterra), Individual Industry (Brasil, meio eletrônico) e Narsilion (não sei de onde), além das já citadas e mais famosas Cocteau Twins, Dead Can Dance e This Mortal Coil).

Ainda, em termo de néo-classico: Stoa (Alemanha), Anchorage (Alemanha), Artésia (França), Arcana (Suécia), Experos (Portugal), Black Rose (Alemanha), Cherche Lune (França), entre
outras.. Talvez, por um lado, pareça meio inútil ficar mencionando um porrada de bandas que acredito que pouca gente conheça, de um estilo musical que talvez também muita gente nem goste. De qualquer forma, tento levar apenas pelo lado de que se é um tipo de música que gosto e admiro muito, não vejo motivo para que outras pessoas também não possam gostar se tiverem um pouco de curiosidade e interesse em conhecer. Particularmente, não deixo de consideram apenas uma ótima opção musical para quem quer apenas ficar na boa, tirar o estress e esquecer toda merda que enche o saco todo dia e ficar de boa, pensando na vida, em casa, sem se preocupar com trampo, vizinhos, ruas, tretas, problemas ou o diabo a quatro e... enfim.... consegui chegar ao fim, como eu queria, um pouco após o texto encobrir a imagem da capa do disco do Mellonta Tauta... Sensacional.






LOVE BEACH


"Estilo" talvez seja uma das palavras mais perigosas do dicionário. Embora subentenda-se dela o conceito de elegância, também é possível subentender o de supremacia que, mesmo no dicionário, também está muito próxima da palavra segregação, embora, por definição, estaria mais corretamente próxima da palavra gênero. Em um mundo plural e respeitoso deveria significar apenas uma escolha, entre infinitas possibilidades, sem qualquer grau de subordinação. Porém, como o individualismo e a insegurança fazem com que as pessoas necessitem competir, acaba se tornando uma disputa de gostos, autoafirmação.
É correto que todos precisem se autoafirmar, mas tanto ego é desnecessário. Opções são saudáveis e merecem respeito. Mesmo em se tratando de gênero, a palavra estilo pode gerar confusão e preconceito. Como atualmente estou muito a fim de falar apenas de música, como exemplo de tudo no universo, aqui vai....
E lá vem Pink Floyd na cabeça e aqui vai minha dúvida (comprar ou não a caixa Discovery) , ou melhor, meu exemplo. Em março, Roger Waters fará shows em São Paulo. A turnê The Wall, na Argentina, já superou, em termos de venda de ingressos, a última passagem dos Rolling Stones na terra dos hermanos. E se falo em Pink Floyd, todos pensam em uma grande banda clássica de Rock. Mas se falo em rock progressivo, todos torcem o nariz ao rococó sinfônico do estilo, sem se dar conta que Pink Floyd é apenas a banda mais conhecida do gênero. Mas Pink Floyd é sempre lembrado como Rock, nunca como progressivo. Em compensação, se falo Yes ou Emerson, Lake e Palmer, todos pensam em progressivo (blargh) , não em rock.
Realmente, Yes e ELP caracterizam tudo o que é considerado mau gosto no progressivo. A pretensão, os exageros, a breguice e excesso de virtuosismo desnecessário. Nada mais característico do que a capa do último disco da fase "áurea" do ELP: o disco Love Beach. Os três caras sorrindo, com as mãos na cintura e as camisas abertas, exibindo os peitos peludos. Muito "estiloso". Mas, inacreditavelmente, alguém gostou tanto da idéia que a capa existe (embora a banda tenha caído no ostracismo após o episódio).
Preconceitos à parte, a capa apenas não condizia com o estilo musical, que trazia a pretensão de ser uma música "culta", "superior". A mesma capa não causaria espanto algum em um disco, por exemplo, do Bee Gees.
O mais triste é que a pretensão e os deslizes de alguns tenham comprometido a carreiras de bandas muito mais interessantes, simplesmente por serem taxadas de "progressivas", com ELP e sua Praia do Amor.
Em 1969, ao lançar seu Bitches Brew, Miles Davis foi odiado por muitos "puristas" do jazz, acusado de ter "traído" o estilo. Pois é, ele estava apenas reinventando o "estilo", ao criar o fusion, a mistura primordia do jazz com o rock.
Mas...por que mudei de assunto tão bruscamente, do rock progressivo para jazz ? Simplesmente pq muitas bandas "progressivas" estão muito mais ligadas ao jazz do que a ELP e música clássica. John MachLaughin, guitarrista de Miles Davis em Bitches Brew (e nome de uma das músicas do disco), posteriormente montou sua própria banda, a sensacional Mahavishnu Orchestra, que pode ser encontrada em qualquer loja especializada em .....progressivo.

E tem mais... Soft Machine, uma banda seminal do estilo, que iniciou sua carreira em casas underground londrinas tocando junto com o Pink Floyd, firmou sua carreira no conjunto sax, baixo, bateria e teclados. É conhecida como "progressiva". Quem procura conhecer o estilo mais profundamente, já ouvir dizer que o Soft Machine é a banda mais famosa do estilo "Canterbury Sounds", simplesmente pq muitas bandas formadas na cidade passaram a seguir o estilo do Soft Machine.

Enquanto isso, na França, outra banda "progressiva", o Magma (não confundir com a banda homônima argentina, que é horrível) , criou seu próprio "estilo", partindo da influência de John Coltrane (JAZZ). Embora goste muito, reconheço alguns exageros na banda, ao misturar tudo com vocais líricos (rock+jazz+ópera) e, principalmente, por criar uma língua própria, o Kobhaian. Porém, um dos bateristas do Magma, Daniel Dennis, montou outra banda, o Univers Zero (jamais confundir com NXZero) , que, embora seja "progressiva", ainda é mais fiel ao jazz que o Magma. E então surgiu mais um "estilo", o Rock in Oposition, junto com outras bandas progressivas que tocavam jazz (simples assim),. como o Henry Cow, Art Zoyd e Present (formada por um guitarrista que saiu do Univers Zero, Roger Trigoux). E o que diferencia o Rock in Oposition do som de Cantenbury ? Boa pergunta... apenas que foram bandas que tocaram em um festival chamado Rock in Oposition e tenha se popularizado mais na Bélgica, graças ao Univers Zero e Present, embora o festival tenha ocorrido na Inglaterra. O Henry Cow é considerado Rock in Oposition (pq organizaram a bagaça toda), embora seja inglesa.
O próprio Bowie, um dos maiores ícones de estilo e bom gosto do século XX (e XXI, pq não?) foi um dos criadores do Glam Rock, junto com Brian Eno e Lou Reed, que acabou gerando crias bizzaras (em termos visuais, digo), como Twisted Sisters, New York Dools e outras bonecas do rock.
Hoje, Lady Gaga se diverte e enriquece fazendo do Kitsch e do bizarro algo moderno e estiloso. Provavelmente, daqui a alguns anos será considerada tão de mau gosto quanto as ombreiras e mullets dos anos 80. Tudo uma questão de "estilo". Supremacia. Tudo tão fashion e volúvel quanto as tendências de cada estação.
ELP, no melhor estilo "mamãe, olha como eu sou gostoso."