Music...NON STOP
Em seu sermão da terceira quarta-feira da quaresma, o padre Antonio Vieira - uma tardia descoberta literária - diz que não existe arma, animal ou inimigo mais perigoso que a palavra "não". Ou "non", como ele se refere no texto. Enfrente um homem. Seu pior oponente. Veja-o de costas e ele está vulnerável. Encare a serpente - a pior - pelo rabo é inofensiva. O mesmo não acontece com o "non". Enfrente o palíndromo de qualquer lado e seu perigo é o mesmo. De trás pra frente, em ordem direta: é sempre "non". Inflexível, imbatível...
Pessoalmente, já enfrentei algumas vezes o não. Em todas saí, no mínimo, abalado. Em maior ou menor grau. E entenda-se esse "não" não apenas de forma direta, como uma resposta ou frustração, mas como negação de uma crença. Quem procura a verdade, procura a mentira. E encontra. E o que é a mentira, senão a negação da realidade? Particularmente, já vivi uma ilusão. Uma hora a enfrentei. E perdi. Encontrei a verdade, mas perdi uma vida: casa, cachorro, a promessa de um filho que não se concretizou... Ainda não me recuperei totalmente... mas estou tentando. Disse "não". O enfrentei. E perdi.
Mas vamos falar sobre música, que é mais interessante... Nela, o "sim" também tem sua culpa e o "não", sua redenção. Para começar pelo óbvio, os tiozinhos progressiveiros gritam em uníssono: "banda Yes", "banda "Yes"...Eles que me desculpem, mas vou ter que criticar. Apesar de ser ouvinte e reconhecer momentos de perfeita inspiração, considero o "Yes" um dos mais perfeitos exemplos da junção de exagerada pretensão técnica com letras do mais inocente sem sentido. O que dizer da obviedade de títulos de músicas como "Owner of a lonely heart" ou "Don't kill the Whale"? "Dono de um coração solitário"? "Não mate a baleia"? Odair José e Roberto Carlos já fizeram melhor.... O "yes", a palavra, também tem sua culpa no caso Beatles. Aliás, influência principal do "Yes", a banda, que começou tocando covers dos quatro rapazes de Lilliput, ops... desculpe, Liverpool. O que seria dos Beatles se não fosse o "yes" (palavra) escrito na instalação que fez o Lennon querer conhecer sua autora, uma tal de Yoko? Se não fosse esse "yes" talvez o Lennon estive vivo e os Beatles, ativos. O que também não sei se seria bom, considerando que poderiam ser outros mortos-vivos, como o Who (apesar que o novo cd deles é bem legal) ou os Stones. Imagine os Beatles, hoje, levando a vida que os Stones levam.... o Paul com um filho brasileiro e o Lennon arrebentado, caindo de maduro ao trepar em árvores, como o Keith Richards. Hilário....
Ah....quase ia me esquecendo...Ainda devo a redenção do "não". Ou "non", para retomar a citação do Padre Antonio Vieira, no início do texto.
Pois bem...recordo-me de um dos maiores êxtases das minhas memórias musicais: o inesquecível show do Kraftwerk, em 2004. O que dizer? Aqueles quatro homens (ou melhor, robôs, pois eles já não são humanos) encerrando o show perfeito. Estão lá..tocando...e, de repente, um deles vira as costas e simplesmente vai embora. Depois outro... e outro. E no final há somente o Ralph Rutter e um teclado. Mas a música continua, com uma voz metálica, que de tempos em tempos diz "Music... NON STOP". Então, Ralph sai, mas a música continua, dos teclados solitários no palco vazio. As cortinas se fecham, mas a música continua... e uma projeção aparece sobre o pano, escrito "Music... NON STOP". E o público sai... aos poucos, ao som da música, que nunca termina...Apenas, de tempos em tempos, a voz metálica diz "Music...NON STOP". Até hoje ela ressoa em meus ouvidos...
Pessoalmente, já enfrentei algumas vezes o não. Em todas saí, no mínimo, abalado. Em maior ou menor grau. E entenda-se esse "não" não apenas de forma direta, como uma resposta ou frustração, mas como negação de uma crença. Quem procura a verdade, procura a mentira. E encontra. E o que é a mentira, senão a negação da realidade? Particularmente, já vivi uma ilusão. Uma hora a enfrentei. E perdi. Encontrei a verdade, mas perdi uma vida: casa, cachorro, a promessa de um filho que não se concretizou... Ainda não me recuperei totalmente... mas estou tentando. Disse "não". O enfrentei. E perdi.
Mas vamos falar sobre música, que é mais interessante... Nela, o "sim" também tem sua culpa e o "não", sua redenção. Para começar pelo óbvio, os tiozinhos progressiveiros gritam em uníssono: "banda Yes", "banda "Yes"...Eles que me desculpem, mas vou ter que criticar. Apesar de ser ouvinte e reconhecer momentos de perfeita inspiração, considero o "Yes" um dos mais perfeitos exemplos da junção de exagerada pretensão técnica com letras do mais inocente sem sentido. O que dizer da obviedade de títulos de músicas como "Owner of a lonely heart" ou "Don't kill the Whale"? "Dono de um coração solitário"? "Não mate a baleia"? Odair José e Roberto Carlos já fizeram melhor.... O "yes", a palavra, também tem sua culpa no caso Beatles. Aliás, influência principal do "Yes", a banda, que começou tocando covers dos quatro rapazes de Lilliput, ops... desculpe, Liverpool. O que seria dos Beatles se não fosse o "yes" (palavra) escrito na instalação que fez o Lennon querer conhecer sua autora, uma tal de Yoko? Se não fosse esse "yes" talvez o Lennon estive vivo e os Beatles, ativos. O que também não sei se seria bom, considerando que poderiam ser outros mortos-vivos, como o Who (apesar que o novo cd deles é bem legal) ou os Stones. Imagine os Beatles, hoje, levando a vida que os Stones levam.... o Paul com um filho brasileiro e o Lennon arrebentado, caindo de maduro ao trepar em árvores, como o Keith Richards. Hilário....
Ah....quase ia me esquecendo...Ainda devo a redenção do "não". Ou "non", para retomar a citação do Padre Antonio Vieira, no início do texto.
Pois bem...recordo-me de um dos maiores êxtases das minhas memórias musicais: o inesquecível show do Kraftwerk, em 2004. O que dizer? Aqueles quatro homens (ou melhor, robôs, pois eles já não são humanos) encerrando o show perfeito. Estão lá..tocando...e, de repente, um deles vira as costas e simplesmente vai embora. Depois outro... e outro. E no final há somente o Ralph Rutter e um teclado. Mas a música continua, com uma voz metálica, que de tempos em tempos diz "Music... NON STOP". Então, Ralph sai, mas a música continua, dos teclados solitários no palco vazio. As cortinas se fecham, mas a música continua... e uma projeção aparece sobre o pano, escrito "Music... NON STOP". E o público sai... aos poucos, ao som da música, que nunca termina...Apenas, de tempos em tempos, a voz metálica diz "Music...NON STOP". Até hoje ela ressoa em meus ouvidos...