Ácido Ameno

Sunday, August 27, 2006

SENHA DE ACESSO AO POEMA (******)

Quem sou eu,
senão (*****) ?
E você, quem é ?
Será (*****), finalmente ?
Quando um embrião de luz solar
invade o quarto
e por entre
frestas frouxas e franzinas
ilumina as sombras,
eu sou alguém.


Mas se te procuro em meu espelho,
só me encontro em teu rosto.
E continuo cego,
preso
a este rosto onde me escondo


Quem sou eu,
senão
283477484-89 ?
Um número de acesso?
Um RG?
Um símbolo
de números e letras
no silencioso frio das senhas
que me afastam de você?



Que direi a você
quando minhas palavras
se tornarem
códigos indecifráveis?
XY987654D ?
SE8579DSS73 noturnos
em 9 MSNs enfáticos?





Um dia
Despertarei
com códigos longos e negros
no lugar dos cabelos
E precisarei
digitar três senhas numéricas
para tocar
meu próprio rosto.



Quem sou eu
senão
uma foto irreconhecível e borrada
na minha velha carteira militar?
Uma senha de acesso de oito dígitos
ou uma regra de atalho
que me transporte
ao cerne dos messengers,
Orkuts,
American Express
ou Mastercard ?
O esquisito ?
Ou
o vizinho novo
do apartamento 43,
da rua tal, 222 ?



Sinto
que meu XY9765
mais profundo
começa a esvaecer
mas já não lembro
a senha de acesso
para retomá-lo.
E quanto tento
dizer que te amo,
a única coisa que expresso
é XD98575.






É a pauta 43
invadindo meu cérebro
como um vírus numérico.
Mas já não sei
que código uso
para tocar os seus lábios
com os meus.


Tenho
uma casa
com um telefone
de 8 dígitos
no débito automático.
E meu prazer
pago em 3 vezes sem juros
no cartão ou no cheque pré...
Mas se entro
em uma sala fechada
e o ar que respiro
causar nojo a alguém,
o que faço?
Desapareço?



Malditos elevadores,
vagões de Metrô,
supermercados,
danceterias....
cheios de ar viciado.
Onde está meu cartão
para sair deste mundo?



Preciso
– É sério!!!!-
urgentemente
pegar o ônibus
432-D
que me leve
a algum lugar
que não conheço.
Mas... o que farei
se chegar
na Chabilândia?


E, então,
se não escuto teu nome,
preciso de música,
pura e direta,
direto
na veia.



Quero música.
Remixar palavras
e tocar a alma
como James Brown
E envelhecer,
sóbrio e seco
como folhas sem sombras
banhadas de sol


Ouça:
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Meus amigos sempre foram campeões em tudo...”

Não!!!!!!!!!!!!! Não é cópia!!!!!!!!
É sampler!!!!!!!!!!
Afinal...
eu também sou Fernando
e também sou pessoa.
“E com todo direito de sê-lo, ouviram?”
“Com todo direito...”


Por quê
tentamos
ter sempre razão
usando
códigos da lógica
se a razão
é um objeto subjetivo?
Talvez o único,
Justamente
por não ser um objeto
mas um objetivo.

Inflo
Meu S83839W cansado…
Mas...
Quem sou eu,
que causo nojo
ao ar
que me respira ?
Que tive medo
de colocar
o nome da minha rua
no início
do poema.
Medo do que?
De você me visitar ?
Ou de ser.. vir a ser
vítima
de algum psicopata homicida?

Por qual razão
alguém
teria nojo
de respirar
o ar que respiro
e não
de ser apenas
mais um número
no RG?

“A linguagem
também é um vírus”,
diria William Burroughs,
entre
uma dose e outra de heroína.
“Sim,
mas precisamos
de uma dose violenta
de qualquer coisa”,
responderia Ginsberg,
aquela adorável bicha judia,
caso
algum dos dois
ainda
estivesse vivo.


Preciso
urgentemente de uma dose de sonhos…
“Onde está meu fornecedor?”
A lei seca
transformada,
em seca onírica.



Mas
ainda há festa....
Matilde!!!!!!
Chame Pablo e Jorge,
pois hoje
não quero números,
mas conversar
com meus amigos invisíveis.
E, quem sabe,
jogar xadrez,
usando como pedras,
as estrelas do céu.



XY9584783
Quem dera
encontrar
a combinação exata
de letras e números
que combine
a ação
que exalta
a fé que se define
com a paciência
para aguardar
o que falta.


Nestes tempos complexos
onde coquetéis Molotov
explodem na noite
e o peito arde
em chamas
de sonhos sombrios
e desejos desfeitos
é tão importante ser simples
e trocar tantos XZY88473
frouxos e tolos
simplesmente
pela palavra
“sim”.

E que o sol então raie
para que a esperança desperte,
amarela e azul,
entre códigos
obtusos e negros
que nos separam nas trevas

Pois,
Se o homem, em geral,
é um refrão
do que o meio faz dele,
é preciso criar
um coração anarquista
que não admita
que mandem nele.

E
enquanto
minha geração
cria
uma nova geração
eu
apenas crio
e me regenero.



E quando a noite
atravessa as vidraças,
por entre as frestas franzinas
da janela.
Em meu quarto
não guardo
senhas,
apenas sonhos...

Sunday, August 13, 2006

EMBRIÃO

Nos últimos dias de julho vivemos, excepcionalmente, alguns dias mais quentes de inverno dos últimos anos. Não sei se isso é bom. Se é um pouco mais de calor na vida ou apenas reflexos cancerígenos do efeito estufa. Sei lá... (sei lá é uma frase mágica, como "ocus pocus". Responde muita coisa...). A verdade é que alternamos noites quentes c om outras de intenso frio. Nestas, as frias, o que pode parecer mais atraente do que ficar encolhido, aconchegante, sob o peso de cobertores macios? Sim...sei...outra coisa pode parecer melhor. Vou chegar lá... mas depois desta outra coisa, acabamos, do mesm o jeito, encolhidos e felizes, debaixo do cobertor. E os infelizes também certamente sentem-se um pouco melhor quando cobertos e aquecidos. Cacete... aonde eu quero chegar com isto tudo? É que venho me perguntando, muito, se esse prazer que sentimos, encolhidos sob os cobertores, nada mais é do que uma vontade inconsciente de retorno ao ventre materno. Uma espécie de fuga dos problemas da vida. As semelhanças são muitas. Quantas vezes me flagro, encolhido, no colchão no canto do meu quarto escuro, querendo apenas e somente, estar alí? Nada mais... nada de vida, nada de vozes, nada de nada. Apenas pequenas ondas de calor agradável percorrendo meu corpo. Encolhido... a escuridão, o silêncio, o calor... Sim, a TV nos distrai, mas o melhor momento é o pré e o pós sono, o torpor, a ausência de vínculos com o cotidiano. Nada na mente, apenas calor e conforto, como no ventre materno. Barulhos, buzinas, gente falando e falando, contas, dinheiro, problemas.... nada disso está alí, naquele momento. Apenas calor e conforto. Talvez por isso, também aquele desejo de "mais cinco minutos", tão comum, todos os dias, pela manhã...
Já sei... "E o sexo?", alguém se pergunta "não é tão bom ou melhor?". Sim, sem dúvida. Mas acaba em calor e conforto, dormindo, embaixo dos cobertores. Os solitários se encolhem e concentram o calor espalhado no próprio corpo. Os amantes se abraçam, um de costas para o outro, resguardando o calor de outro corpo. Todos encolhidos... como fetos.
Só nos esparramamos na cama no verão, como flores que desabrocham, mas é porque o calor já está presente, espalhado justamente por todo o ambiente no qual nosso corpo se espalha.
Aliás, quanto ao sexo, não querendo parecer Freudiano, mas ao menos nos homens me pergunto se a penetração não seria uma forma inconsciente de retorno ao ventre materno, esquecendo a distinção social entre "mãe" e "mulher". Mas aí também já é querer ser Édipo demais demais e envolve valores morais nos quais nem quero pensar. Além do mais, nas mulheres, não sei como funciona. Se fosse uma talvez entendesse... Sei lá... aceito sugestões...