Ácido Ameno

Friday, July 03, 2009

O que férias no inverno fazem na cabeça de um sujeito

Nunca coloquei nenhum texto meu antigo aqui. Porém, estes dias frios me deixaram meio nostálgico e resolvi fuçar algumas velharias. Resolvi repassar essa sensação.... Escrevi este poema quando tinha alguma coisa entre 18 e 20 anos, não sei ao certo, para uma garota que estava interessado. É óbvio que ela nunca leu. Hoje, com quase o dobro da idade, percebo que as coisas e o mundo nem mudaram tanto. Quanto a ela...casou com um amigo meu. Eu mesmo arrumei uma namorada e segui minha vida. Não sei dela, mas o poema ainda está aqui. Quando escrevi, nem imaginava que um dia poderia ir parar em um troço de nome engraçado, chamado "blog". Mas assim, pelo menos alguém mais pode ler ele, além de mim...

A CONFISSÃO DESTERRADA

Reconheço
as reticências de um sorriso
diluídas
no flagrante espaço de um olhar
e o que há de sólido na argamassa do meu corpo
se esvai
em uma estúpida revoada.


Me ouça
ainda que em meus olhos
habitem sóis de inconsciência
e a violência que há em minha fúria
rasque a noite com seus dentes.
Pois hoje
eu te convido
não a se embriagar em uma encruzilhada de frases perfeitas
mas a beber o ácido vivo da súplica humana.
Para assim, talvez,
Compreender meu silêncio.



Me ouça.
Ainda que minha mente se esfacele
e minha face revele uma paisagem sem fundo
Pois eu amo,
o amor da serpente estancado em sua presa.
E que meu olhar
Fale mais que as palavras dos lábios em fogo
Pois lábios são todos iguais
O que varia é a pessoa em seu quilate
E pessoas não são palavras.


Eu rumino momentos
Enquanto o mundo explode com suas coroas de louro.
Fugaz como uma supernova, eu brilho, mas sem direção.
E não me dê a corda, e não me ate o laço.
A única pressão que necessito é estar comprimido entre dois braços.
Como em um casulo de anseios corrompendo o outono.


Desta vez
O espelho me nega e a ironia da verdade é uma só:
A única prisão que mais temo é da qual não desejo escapar.
Seja ela uma vertigem ou um estado de coisas,
O desejo das Índias ou náufragas estações
O confronto entre o ver e entender
na ausência do agir
recrudescendo em cada farpa
do sangue rasgado no chão.


E ainda assim eu vejo, ao meu redor,
corpos de barro derretidos sob um sol encouraçado.
E tudo
que em volta se aglutina
em um origami indecifrável.
Homens que, se amam, é com seu tédio
em um ritual de predadores
e cujo brilho
é o de punhais
perfurando a própria sombra.
Quanto a mim, incipiente,
te sinto etérea,
como uma coroa de nuvens brincando no ar.
E se traço a forma vasta do teu rosto
os demais se transfiguram como feições inacabadas.

A estes tantos, meu silêncio
é o vácuo estéril de um planalto, vazio.
A estes
estendo
o tapete vermelho da minha própria língua
para que vejam com os próprios olhos
as frases
que se debatem, sufocando o que têm a dizer
sob uma coluna enraizada de amídalas.
A eles confesso meu maior desejo
e a razão pela qual insisto
em arrancar os soluços de um mudo.


Eles se calam
e seu silêncio machuca
mas eu sei
que é preferível lutar por uma causa até a morte
do que morrer lutando por ela.
E é melhor regar uma semente sem vida
do que não planta-la.
E meu coração, que é tão grande, eu não posso toca-lo.
Que ele não seja apenas um amuleto suspenso no peito.
Mas uma bandeira estendida no tempo.


Uma estação se anuncia galgando teu nome.
E se a chuva despenca inundando meus olhos
eu me afogo esquecido no mar do teu olhar.
Em meio a hegemonia dos gemidos sufocados
um gigante que uiva, tentando alcançar a lua
é pequeno
como um homem do povo perante a nação.



Te peço vida.
Mas o mundo explode em suas coroas de louro.
Enquanto, só e calado, te vejo passar...


P.S - preciso parar com esta coisa de nostalgia. Desse jeito vou acabar colocando o que escrevi quando me separei da minha ex-mulher. Mas aí tem dois problemas: 1) ela vai saber que ele existe (apesar que agora já tem como saber, dããããã) ; 2) é muito looooonnnngggoooooo. Ainda bem que as férias acabam hoje!!!!!!

Observação - Caras se apaixonam, sim. Quase todos caras que conheço já passaram por isso. Uma ou mais de uma vez na vida. Exceto os pegadores. Esses são apaixonados apenas por si mesmos. É com estes que as garotas geralmente ficam.