Ácido Ameno

Monday, June 18, 2007

Lonely is an eyesore 2

Hoje queria, como o Frank Zappa, gritar para o mundo: "We are on it only for the money". Mas não posso fazer isso por duas razões. Primeira: não é verdade. Segunda: ele já fez isso. E repetir transgressões alheias é um exercício bobo de inutilidade. Acho que resolvi começar falando dele apenas porque estou lendo o livro que o Fábio Massari organizou sobre o cara: "Detritos Cósmicos". Realmente, não estou nessa só por dinheiro. Mas às vezes gostaria de ser frio e prático a este ponto. Enfrentar sentimentos dá trabalho e frustração. Os próprios. Os alheios. Não sei quais são mais frágeis.
Mantê-los, vibrantes e latentes, pode parecer falta de profissionalismo ou de maturidade. Perdê-los - falta de humanidade, pricipitação do inevitável, "Crônica de uma morte anunciada", apenas para citar o bom e velho Garcia Marques. Acho que o ideal é continuar buscando o caminho do meio, como bem sintetiza a filosofia budista. Mas nem sempre é fácil encontrar o meio de coisas cujos extremos não possuem limites.
Como já disse em um poema, tenho dificuldade em aceitar que, no mundo, as pessoas costumam aceitar melhor ofensas que elogios. As ofensas, as pessoas geralmente engolem, quando não podem revidar, e ruminam pelos cantos, como ratos digerindo pequenos infortúnios. Elogios mal digeridos retornam como jatos, com a mesma força de quem revida a uma ofensa. Simples "obrigado" ou "tudo bem" viraram verbetes de dicionários pré-modernistas.
Hermético por natureza, sei muito bem das dificuldades com o convívio alheio. Passo, muitas vezes, dias sem ouvir o tom da própria voz. E quando vou falar com alguém, muitas vezes, por desuso, não sei o que dizer. Mas se isso não é bom, também não sinto muita vantagem em convívios "fakes", superficiais, coleguismo "miojo", que se faz em três minutos e retorna ao nada assim que o ambiente se transforma ou uma necessidade é superada. Coleguismo "de buteco", de quem pega seu carrinho e vai para o barzinho, ficar de papinho com o grupinho, dando grandes importâncias a coisas pouco colocadas em prática. Muita pose e falatório. Pouco sentimento e pouca ação. "Fake". Exposição de molduras vazias.
Prefiro o silêncio. Ou uma palavra que preencha bem os espaços. Que ecoe. Que chegue a algum lugar. Tenha um efeito. Às vezes erro. Dirijo uma palavra a um alvo errado. O que retorna é distorção e overdub. Como o experimento bobo de jogar bala em garrafa de Coca-Cola e ver o gás explodindo, jorrando para todo lado.
Expus, recentemente, alguma fraqueza e soltei um elogio mal colocado a uma flor de carne e ossos, que considerava frágil e sensível. Não era a primeira que elogio, é verdade, mas nenhuma vez foi uma atitude fake ou com grandes pretensões. Agi com naturalidade. Queria agradar, tratar bem e ser delicado, por se tratar de flor sensível. Em troca, um pouco de compreensão seria suficiente. Não esperava mais que isso. Utopia demais para um banana de pijama. O elogio tornou-se ofensa e assédio. E aqui vai um... coletivo, em especial para todas as mulheres : "Vocês não prestam... mas são lindas e adoro vocês".
Sei que essa sensação não é só minha. Na maldita música, que me domina e uso como base para tudo na vida, me chegam três exemplos práticos, instantâneos, de outros caras mais ricos, bonitos e famosos que eu, que já descreveram sensações semelhantes.
Vamos lá: 1) No filme The Wall, do Pink Floyd, a inesquecível cena das flores se acariciando, quando uma se transforma em uma planta carnívora e engole a outra. 2) Ainda no The Wall, que é cheio dessas contradições de sentimentos e sensação de isolamento, quando diz, na letra de Another brick on the wall part 3 "I don't need no drugs to calm me... I don't need no arms around me...." . 3) Na música "Only", do Nine Inch Nails: "There is no you... there is only me" etc..
Isto apenas para citar três. Mas a lista seria interminável.. Solidão e apatia. E é uma pena, pois sei que nem todas as vezes as pessoas reagem por insensibilidade ou maldade. Apenas por instinto. Reação de hormônios. Talvez, algumas vezes, por falta de libido ou má interpretação. Mas é certo que o mesmo elogio pode ser acolhido de forma totalmente diferente, se proferido por outro tipo de homem, o que também demonstra alguma dose de preconceito e hipocrisia. E, no fim, na mais divina das ironias, não restam agressões ou agressores, apenas agredidos, mas as flores murcham solitárias *, enquanto o sol continua brilhando...


* mas não solidárias.