Ácido Ameno

Sunday, November 28, 2010

SUNDAY MORNING

GONZO !!!!!!!!!!!!!!!
hhhhhuuuuaaaahhhhh..........(espreguiçando !!!)
Não posso ler Hunter Thompson. Fico alucinado de tabela.... Sem usar nada.. Por osmose. Apenas parado, olhando o vazio.... e viajando. Deixa pra lá.. Já sou suficientemente entorpecido sóbrio. Um simples baseado seria suficiente para imaginar assassinos iranianos brandindo cimitarras afiadas pelas minhas costas. Deixa quieto... Silence is sexy......diz a música do Neubauten na minha cabeça. Mas aí lembro de outra, que diz que "Confusion" é que é sexy. Schizophrenia. Sonic Youth. Moro no gueto, quase no centro da cidade e isso por si só já é bastante contraditório. A partir de hoje, só ando pelas ruas com uma 38. E se a polícia me parar, eu saco ela.. Na carteira de identidade, é claro. Nem Cristo viveu tanto. Acho que tô doido, mas só se for de celibato... o tal do "sobe pra cabeça". Dizem que alucina. Não duvido. Mas não dá barato. Lembro de uma tia, coitada.....70 anos de seca. Em uma bela manhã de domingo, como a de hoje, eu e "Bá" (carinhoso e afetuoso diminutivo de "baiana com a testa grande e pé rachado") estavamos dormindo na sala da casa dos meus pais quando essa tia, aos prantos, tocou a campainha, 7 horas da manhã. "A polícia.... a polícia....na porta da minha casa....Eles querem me levar !!!!". Acho que ela estava lendo Hunter Thompson. Ou foi café e cajuzinho. Não sei. Ou celibato. Pior !!! Hoje, já falecida, imagino espíritos pulando sobre o sofá, na casa dela, como se fosse uma cama elástica.
Ai, Jesuis......não quero ser seguido pela polícia imaginária quando chegar aos 70 (se chegar) . Muito menos pela verdadeira, aos 38. Prefiro seguir a Pamela Anderson, como o Borat, e passar por doido... mas esperto. Hum.....acho que prefiro a Kylie Minogue. Faz mais meu tipo..Vou pensar...
Pronto ! Pensei ! Como isso cansa, meu dEUS !!!!!! Já não preciso de exercício hoje. Só de um pouco de escrita espontânea. Comprei uns discos que eu não tinha. O "Coda" (com "C") do Led Zeppelin e o "Red shoes", da Kate Bush. Não sei pq passei tantos anos sem comprar esses dois discos para ter todos da respectiva banda-artista. E o box-set do This Mortal Coil, sonho de consumo antigo, caro (U$$314, no Ebay) e raro.. e o melhor, por um

preço legal. (I come and stand at every door.....) . Mas.....querido diário...minhas férias foram muito felizes. Fui para a praia e montei um castelo de areia desse tamanho, uóóóóóóó...., abrindo os braços, como apenas uma criança de 12 anos poderia fazer, na mais ingênua empolgação. E volto a ter 12 anos, quando tudo parecia ser infinitamente mais simples, ainda que longo ou distante. Hoje, o que assusta é a proximidade. E os 12 anos é que parecem distantes. E estou sendo vendido, pela Livraria Cultura, pela internet. Muito fino. Só falta uma coisa....ser comprado.. Acho que vou ficar lá na porta, falando pra todo mundo que passa..."Me leva, moço !!!!!!"......"Moça bonita não leva, mas também não paga!!!!!!" E , de mais, tudo em paz. na mais completa "pax de deux". O que é muito bom, quando se considera o que é estar em paz consigo mesmo. E, na verdade, hoje não sigo ninguém. E também ninguém me segue. Nem a polícia !!! Nem no twitter !!!!! Que bom !!!!!!
"That's all, folks !!!!!!!!!"


HUNTER THOMPSON













Sunday, November 14, 2010

BUKOWSKI

Charles Bukowski
Nunca gostei de Bukowski. Adoro os beatnicks, mas Bukowski, sei lá...., nunca gostei. Não é pelo sexo, pela cafajestagem. Gosto de Sade e Nelson Rodrigues. Mas não de Bukowski. Na verdade, sei pq. Me faz lembrar aqueles amigos chatos e inconvenientes, que todo cara tem e que, em alguma época da vida, quando você está ocupado, chegam no teu ouvido, de mansinho, e começam a contar os seus dotes de sexo. Uma cena, antiga, de épocas de faculdade, me marcou perfeitamente o que pretendo dizer. Estava eu, sentado, na minha (pra variar) , tomando cerveja com algumas pessoas, quando um desses "amigos" chegou no meu ouvido: "Tá vendo aquela mina ali, a .....", apontando para uma garota sentada ali perto. "Me fez um puta boquetão ontem". Meio sem jeito, olhei pra cara dele, que me olhava com um sorriso de orelha a orelha. Até hoje, não sei o que ele esperava. Talvez que me levantasse e o cumprimentasse pelo feito. Talvez que o invejasse, por ser tão fodão. Só sei que não senti nenhum prazer pelo feito dele, que não me dizia respeito. Apenas duas coisas me passaram pela cabeça. A primeira: "sei lá se é verdade". A segunda:"Se fosse, talvez não tivesse sido grande coisa pra ela que, naquele dia, nem olhava na cara dele, como se nem o conhecesse. Nem um simples "oi"". Então, não sei qual a vantagem. Ler Bukowski me lembra esse cara.

Sexo casual, sei lá.....cada um, cada um....mas também me faz pensar em relógios, engenhocas mecânicas, escovar os dentes, beber água, urinar.....qualquer necessidade física sem grande importância. E sei bem o que é sentir o calor de estar dentro de alguém de quem gosta. De fato, são coisas distintas...
Respeito a cafagestagem. Se for criativa, humorada. Não essa, de gente arrogante, que precisa se auto afirmar, completamente inábeis de encontrar paz em si mesmas ('as vezes também perco a minha. Mas dou uma procurada, sei que está por aqui). Convívio é bom, enquanto sincero. Fora disso é trash. Fake, farsa e fofoca. Deixa quieto. Tapinha nas costas. Também já dei uns. Veneno não faz mal para cobras. Mas não gosto. Tenho evitado. Não é legal. Mas não entre amigos. Estes são tótens sagrados, com quem compartilho segredos e risos, que fazem sentido na vida. É isto que importa. O restoé superficial, passageiro, sem importância...
Gostar de alguém não impede o tapana bunda.Tudo é diversão, entre quem se entende. Entre quem vive a verdade. Qualquer coisa vale. Não gosto de Bukowski, mas recentemente comprei o livro novo do Nick Cave. Cafajestão bigodudo. Nele, o personagem chega em casa e encontra a esposa morta. Triste, pega ela nos braços. Repara no quanto os seios dela são lindos. Vai no banheiro e castiga o azulejo. Só então vai fazer os preparativos para o velório. Nick Cave, esse velho safado, como....Bukowski.
Nick Cave, seu velho safado !!!!!!!!!!!!

Segue, uma crônica de Humberto de Campos. Cafajeste maior, mestre do duplo sentido, desde o início do século passado. Sempre cito ele aqui. Um dia ainda escrevo algo decente sobre ele.
A INFLUÊNCIA DO MEIO

Não há, para os pais e noivas provincianos, perigo que mais os amedronte do que a cidade. A cidade, com os seus teatros, seus cabarés...com as suas mulheres tentaculares, atemoriza-os mais do que a onça, do que o perau do rio,, do que o dente do jacaré. Daí, o susto em que ficam as famílias. nos Estados, quando um rapaz ou um homem casado, ou mesmo um velho, faz uma viagem ao Rio de Janeiro.
Mortal como os outros, o Dico Monteiro, da Feira de Santana, na Bahía, resolveu, um dia reduzir a dinheiro uma fazendola que o pai lhe deixara, e sair, sozinho, como nos contos da "Baratinha" a correr o mundo. Lágrima não houve, nem de mãe, nem das irmãs, nem da avó, nem mesmo da Rosinha Viana, sua prima e namorada, que o demovesse daquele intento maluco.
- Toma cuidado, Dico! - pedia-lhe a mãe, com o coração repleto de pressentimentos. A côrte é um foco de perdião, meu filho !
- Te lembra de nós, Didico ! - gemiam as irmãs, atracadas com ele, duas de um lado, três do outro, sentadas na mesma rede, suprindo a deficiência dos conhecimentos gramaticais com a ingênua riqueza do coração.
-Reza pro Senhor do Bomfim te guiar, Mundico ! - aconselhava, batendo o queixo, a avó, a pobre dona Fortunata, com a certeza, quasi, de não mais ver aquele ingrato. E a Rosinha, meiga, terna, os olhos úmidos, o beicito tremente, com toda a doçura de sua inocência:
- Pelo amor de Deus, Dico! Não olha pra moça nenhuma, sim :
Um mês depois desembarcava no Rio de Janeiro, recomendado ao sr. senador Muniz Sodré, o Raimundo Costa Monteiro, fazendeiro na Feira de Santana. E sessenta dias mais tarde, era tal o aproveitamento do baiano, que o seu nome figurava com destaque em um conflito na Glória, onde havia ferido, a faca, por causa de mulheres, dois ingleses, um espanhol e quatro soldados da brigada policial.
Transmitida para a longínqua cidade sertaneja, a notícia causou, como era fatal, enorme sensação. E os comentários choviam. - Eu não disse! - exclamava dona Brígida, enxugando os seus tristes olhos maternais. - Com aquela mania de olhar a boca de quanta mulher enxergava, o Dico havia de fazer alguma asneira!
- Não era a boca, mamãe!, emendava a Luizinha, a irmã mais velha. O que impressionava o Dico quando via moças, eram os olhos delas!
-Que olhos que nada! - emendava a Tatu, um pouco mais moça - o Dico não se cansava era de olhar para os pés da gente, na igreja. Essa maluquice que ele fez no Rio foi por pé de mulher. Vocês hão de ver!
Foi por essa altura que entrou na sala de jantar, onde a família se achava reunida, o coronel Benedito Fagundes, antigo tabelião em Remanso. E as mulheres , em coro, expondo-lhe o caso, pediram sua opinião:
- Não acha, compadre, que foi por causa de um par de olhos :
- Não acha, padrinho, que foi por algum pé:
- O coronel não é de opinião que foi alguma boca :
Sitiado assim, o coronel passou a mão pelo queixo, ensaiando uma careta de dúvida.
-Não creio, não, comadre, - opinou. - Isso não foi nem boca, nem pé, nem olho, nem nada.
As mulheres fizeram silêncio. E o velho sentenciou, grave:
- Isso, comadre, só tem uma causa.
E cofiando o cavanhaque:
- Foi influência do "meio", do "meio"....
E olhou o teto, contando as telhas.