Ácido Ameno

Monday, June 20, 2011

ARMAGEDDON

Não. O mundo não acabou em 21 de maio, como previsto. Melhor assim, acredito. Porém, ainda não é motivo para regozijo. Costumo brincar que isto não é motivo para desprezar o Armageddon. Afinal, todos sabem que o fim do mundo ocorrerá, realmente, no ano que vem, em 2012. Dia 21 foi apenas, o "dia da seleção", digamos.. O resultado mesmo.....só em 2012.
Pois bem....conversando com meu irmão não biológico que a vida me deu, o Fábio, concluimos que se, como dizem, a solidão foi o mal do século XX, a auto suficiência é o do século XXI. Realmente. Vivemos uma época de glamour. De sucesso. Cada pessoa se considera, particularmente, especial e vitoriosa. Cada um traz uma história de sucesso e de conquista, não importa qual seja. Os seres humanos morreram. Vivemos em um mundo de Deuses. Todos e cada um possui seu emprego, sua carreira, seu dinheiro, pequenos objetos mecânicos multifuncionais que refletem status e independência, embora todos estejam cada vez mais dependentes deles. Na prática, apenas trocamos pessoas por objetos, nos afastando das relações pessoais pela informalidade das máquinas. Cada vez mais portáteis, multifuncionais e rentáveis. Cada vez mais provedoras, para pessoas cada vez mais autosuficientes.
Nunca malhamos tanto. Nunca fomos tão belos. Nunca nos amamos tanto. Nunca fomos tão livres, tão independentes. Talvez, por isto, os conceitos de "família" e relacionamentos pareçam cada vez mais arcaicos. Ninguém precisa de nada. Nem de ninguém. Os contatos são cada vez mais superficiais, pois precisamos mais de contatos do que de amizades íntimas e duradouras. Cada um cria os próprios filhos sozinho e se orgulha disso. A própria concepção ocorre em momentos de prazer individual entre dois indivíduos. Precisamos do outro apenas porque ainda não criamos o "auto sex lover". Mas fica aí a sugestão para a Sony, a Nokia, a Apple ou a IBM ou qualquer porra transnacional. Quando muito, cada um procura no outro, cada vez mais, não a saudável troca de afetos, mas a idolatria dos deuses gregos, transformada em desejo pelo físico, para auto satisfação pessoal e momentânea.
Recentemente, ao publicar um livro, descobri, pela experiência, ter fracassado miseravelmente. Expurguei fraquezas em uma época em que todos se consideram vitoriosos e querem exemplos de histórias de sucesso para se sentirem ainda mais individualmente poderosos. Aprendi com o erro, ao perceber pela fria recepção das pessoas que, talvez, muitas apenas riram de um pobre coitado, tão bobo e tão fraco. Tão diferente delas. Prometo corrigir este erro em um próximo livro, caso surja nova oportunidade editorial.
Como nos quadrinhos da série "Miracleman", publicada no início dos anos 90, única a reunir, sob o mesmo título os dois maiores escritores britânicos de HQs, a meu ver, mas as torcidas do Manchester e do Liverpool concordam (como se eu entendesse alguma coisa de futebol) , Alan Moore e Neil Gaiman, quando o homem se descobre superior, forte e independente, comete o equívoco de se considerar o super-homem de Nietzsche. E o que é o super-homem, o ser superior, senão...dEUS ? Estamos nos tornando deuses particulares de nossas próprias vidas ? Afinal...somente a nós mesmos elas pertencem. Sim... Talvez em um processo exageradamente acelerado da escala evolutiva estejamos realmente nos tornando deuses ou cada vez mais próximos dele. Ou apenas nos achando. Cada vez mais fortes e robustos, como......dinossauros. Fortes e robustos. Absurdamente autosuficientes. Misteriosamente extintos. E que o mundo não acabe em 2012. Assim como não acabou em 21 de maio...