Ácido Ameno

Wednesday, October 31, 2007

QUANDO, COMO UMA GAROTA SUPERPODEROSA, WILLIAM BURROUGHS SALVOU MEU DIA

Atualmente tenho ouvido muito falar em "estilo" como sinônimo de "atitude". Tatuagens, argolas e piercings cada vez mais tomados como a atitude do novo milênio. Não sei... chamo apenas de imagem. Mas frontispícios precisam de núcleos. Capas, de
brochuras. A beleza parnasiana está morta. A imagem, contestadora em si mesma? Sim, mas dentro de um padrão, logo, sem constestação motora. Contestação para contestadores, como espelhos para espelhos. Apenas imagens. È desejável a beleza em novos padrões, sim, mas rótulos apenas intitulam e marcam. Apenas agregam valores, sob o mesmo princípio que admnistradores escrotos agregam valores aos produtos que vendem. E quem se vende, como um produto, não contesta. Endossa e assume. A mesma beleza do chapéu e espartilhos, apenas substituindo o ópio pelo ecstasy.
ATITUDE - "Postura do corpo; norma de proceder; reação ou tendência determinada de comportamento em relação a qualquer estímulo ou situação; propósito; maneira de significar este propósito" - Pequeno Dicionário Brasileiro da
Língua Portuguesa.
Ouço muito a palavra estilo. Considero bacana mas, como já disse, frontispícios carecem de núcleos e não devem ser tomados como um fim, mas como um meio. Também amo o o techno e a hipnose. Deixar a música transcender e dominar, sem preocupações de conteúdos, apenas transe e prazer. Vejo a modernidade cada vez mais repetindo
conceitos aborígenes. A pintura do corpo e as danças da tribo. Mas como o orgasmo, este êxtase e o estilo precisam ser sustentáveis ou serão engolidos por muralhas de vidro. A aparência e o prazer são incontestavelmente maravilhosos. Amo-os, mas momentaneamente, pois há o instante seguinte. O prazer passa. A beleza é fugaz. E o mundo precisa ser girado antes que administradores de empresas escrotos o vendam, em troca de comissões. Quem não retorna do transe se esquece disto.
Domingo (basta olhar a data de postagem no blog), vazio e sozinho, como em transe de techno, mas sem o prazer, senti vontade de compartilhar com alguém uma leitura de William Burroughs (não eu lendo. Ele lendo, em vídeo). Mas não havia ninguém. Apenas, talvez, sombras mortas perambulando ao redor. Mas estas pouco se
importam com o destino do mundo dos vivos. E quando morrer, como compartilharei o prazer de ouvir a leitura do texto de Burroughs? Após o êxtase e o prazer do transe e das noites, meu dia precisava do conteúdo daquela leitura para preencher o vazio. Chega da atitude egoísta de apenas mudar a própria imagem e achar que está bom e isto é tudo que importa ou precisa ser feito. É preciso lembrar que há um mundo e que, como dizia Burroughs, em sua leitura, "... no dia de Ação de
Graças, o padrão americano descarta sua merda de intestino de ganso pela superfície do mundo".
E... definitivamente... não é nada estiloso se deixar ficar sujo de merda.

Friday, October 12, 2007

CONTRADIÇÕES

Solidão:
Toda tristeza do mundo
na palma da mão
de tão apertado que dói.
Embora ocupe o universo
e se espalhe
por todos lugares.


Olhos cansados
procuram tão longe
em um mar
de outros olhos cansados.
Nunca se encontram,
embora parados
ao lado um do outro.
Bastaria
um toque leve de mãos.


Mas que sou eu,
que amei sem ser amado,
para falar de amor,
se amor é troca,
para ser pleno?
E o amor, incondicional,
mas não correspondido
é belo, mas não é pleno.
Se chama carinho.


O amor que olha
para o céu e as estrelas
é o mesmo amor
de ídolos platônicos.
De estátuas gregas,
belas, mas incompletas.
Um amor sem braços e pernas.


Nas batalhas
o amor, se existe,
é pela própria batalha,
não pelo ideal.
Pela troca mútua de sangue.
Mas o amor não mata, constrói.
Logo, o amor das batalhas
é um amor falso, de suicídas.
De quem, na falta de amor,
destrói o próprio carinho.


Cansei
deste amor sem eco,
que chama sem resposta,
arde, mas não queima.
Machuca, mas não cura.
Redime, mas não salva.
Ilumina
e apenas cega.


O amor
que tateia
um rosto no escuro
e descobre
que o rosto
era apenas um sonho
e a cegueira
do quarto escuro.


Que possui
milhões de nomes
e sobrenomes
espalhados pelo mundo
mas atende sempre
pelo mesmo nome:
ausência.


Um amor
que é sombra
e assombra
os amantes
não correspondidos



Por favor, me ouça.
Escuta o que eu digo.
Quando sentado, com as mãos estendidas
imploro e suplico
um pouco de afeto,
como um mendigo.


Ou quando te sigo,
sorrindo e solícito,
pedindo carinho.
Cachorro sem dono.
O amor mais provinciano
de um coração
a 500 mil beats per second.


Deus está
em tua casa.
Mas o diabo,
às suas costas,
espera teu próximo passo.
Me guie
com teu sorriso.
Me salve
no teu abraço.


Já....



Ansiedade...
tropeço de amor.
A vontade
que chegue antes
o que será
semeado depois.
A celebração do sem jeito
na descerebração da paixão.


Erro primeiro,
dos amantes e não amados:
querer ser completos juntos
sendo incompletos, separados.
Erro segundo:
procurar
na incompletude do corpo
toda a plenitude do mundo.


E eu
que senti toda a dor
do mais profundo vazio
te pergunto:
Como pode
ser esta sensação um vazio
se está repleta de dor?


Contradições...


Como posso querê-la
se ela vive a vida
e eu apenas vivo?
Como posso tocá-la
se ela toca sonhos
e eu apenas sonho?
Como posso sentí-la
se ela preenche espaços
que eu apenas ocupo?


E eu,
que sempre odiei
as poesias de amor,
hoje me rendo.
Minha paixão de ideais
se perdeu
no ideal da paixão.


Enfim...
A plenitude do amor
como meta.
Não aquele
que toma chá com bolachas,
domingo à tarde,
mas que rasga a pele
e salta as vísceras
de tanto desejo.
(embora
também se permita
tomar chá com bolachas,
de vez em quando).


Ah, doutor....
e se para o que sinto
não há solução.
Ao menos um comprimido
me afague
a dor
desta solidão.
Prozac e poesia
na ausência
de prosa e companhia.


Te amo.
Mas se não posso declarar meu amor
e fazer dele coisa viva
ao menos
posso dar vida a ele
na tela
de um computador.
E se meu olhar
é tudo que posso
dizer a você,
que o amor
se torne
palavra viva
sangrando
no coração de quem lê.