Ácido Ameno

Monday, July 31, 2006

MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA DO DR.WILLIAM BURROUGHS

Sim. Sou um porra de um viciado de merda. Fodido e desgraçado como qualquer outro. Mas não igual a todos. Meu vício é peculiar, com abstenções particulares e muito específicas. Talvez por instinto de sobrevivência. Talvez por pura covardia. Enquanto companheiros de infortúnio entopem o cérebro pelo uso da metadona e da mescalina, prefiro o uso de drogas abstêmias, como CDs, DVDSs e HQs. Inofensivas, se não fossem utilizadas com os mesmos propósitos de qualquer outro ópio (ou paraíso artificial, como diria Baudelaire): disfarçar a realidade.
Nós, dependentes, podemos seguir dois caminhos: o da entrega e o do controle. O primeiro é o do desespero, quando a verdade não mais importa. O ideal é permanecer definitivamente no torpor químico e esquecer o que existe. A busca de um sono constante. Não raro, esse caminho termina em overdose. E a morte coroa esse objetivo. Que outro sono pode ser mais constante?
O outro caminho é o do controle. Saber dosar picos de realidade entre doses de sonho. Tomar cuidado com a mistura e as medidas dos sonhos. E viver duas vidas. Ou meia, se preferir, dependendo do ponto de vista.
O maior exemplo disso é o escritor William Burroughs. Viveu, drogado e fodido, controlando sua dependência, e morreu, drogado e fodido, com mais de 80 anos. E ainda teve tempo e neurônios para revolucionar a literatura. Mas não era um viciado de merda qualquer. Era um estudioso do próprio vício. Conhecia a composição química das drogas que usava. Sabia que os efeitos ruins da abstinência de uma droga podiam ser supridos por substâncias de outras, evitando a provável overdose de uma e o sofrimento da ausência de ambas. Jogou com regras perigosas, mas era um bom estudioso e morreu mais velho e mais lúcido que muito natureba comedor de mato.
Mas de um efeito ele não escapou: o ostracismo. Qualquer droga nos torna pouco sociais. Viver entre a realidade e o ideal nos afasta-os drogados- dos outros. Não é intencional, mas inevitável. Assim como o uso da coca, de acordo com a quantidade e a frequência, tornam o sujeito impotente. Não raro, usuários de coca tornam-se homossexuais. Ao mesmo tempo que a droga atiça o desejo, com o tempo esmorece o corpo. Mente e órgão descompassados...
CDs, DVDs e HQs não são químicos. Não causam esse mal. Graças a Deus. Mas contribuem com o isolamento. E isolamento, como todos sabem, deprime. Consumo drogas digitais de nomes muito obscuros, como Thors Hammer, Antonius Rex, Museo Rosenbach e Bersuit Vergarabat, mas às vezes, tudo o que precisamos é de alguém passando a mão em nosso rosto ou passar a mão nos cabelos de alguém...
Quando isso acontece, para permanecer vivo e saudável e não ser abatido pela tristeza, é preciso aprender a conversar com o próprio corpo, como Burroughs aprendeu a estudar os efeitos químicos das drogas que usava. Se alguém me falasse isso antes, desconfiaria e acharia que isso pode ser uma grande bobagem, mas hoje acredito que o corpo fala e expressa suas próprias vontades. Muitas vezes, as tristezas que temos são apenas as necessidades do corpo. Acredite, hoje consigo compreender alguns desses desejos. Muitas vezes, em momentos de intensa tristeza, sei por exemplo, que tudo que preciso é tomar um pouco de água ou comer essa ou aquela coisa específica. Ou apenas ir ao banheiro ou, geralmente, dormir de verdade um pouco mais.
Dormir é um dos melhores remédios da alma. No sono o corpo e a mente se auto medicam das ausências e excessos que provocamos na vida real. E isso ajuda a manter-se vivo, ao menos mais um dia, um de cada vez, por meses e anos, como fez William Burroughs.

P.s - Pq o porra do Dr. Lair Ribeiro nunca escreveu isso em seus livros de auto-ajuda de merda? É muito fácil dizer: "Confie em si mesmo e terá sucesso". Vá se foder...

Monday, July 24, 2006

FEIJOADA

... e a Alemanha perdeu a última copa. Mais uma vez, apesar de toda superioridade de sua bela nação ariana, de lindas loiras (e loiros) de olhos azuis. Perdeu praticamente para um cabeçudo careca, que na hora do "vamo vê" também perdeu a cabeça. Mas, que se dane...(desculpe o trocadilho, tão infame quanto o do "Caceta", do seringueiro que "tira leite do pau"). Pois bem...se na Alemanha a falsa superioridade da raça é histórica e mais antiga que Hitler (já estava lá... no libreto da ópera Parsifal, de Richard Wagner, no século XIX) , no Brasil, cujo povo é oriundo de uma feijoada promovida entre portugueses, negros e índios, é ainda mais ridícula e absurda. Aqui, cada um procura ser superior com o que pode. Geralmente é o dinheiro, mas há meninas que usam lentes de contato e até sapatos com sola do tamanho de um tijolo para sentir-se mais altas e "superiores". Tudo que embeleza é valido. O mundo precisa de um pouco mais de beleza. Mas de beleza que transmita felicidade e alegria, não orgulho e vaidade pueril. Afinal, esses subterfúgios de beleza não estarão na pele, quando ela começar a se decompor. O equilíbrio é difícil, eu sei... cabeças preocupadas com corpos perfeitos encobrem mentes vazias e mentes brilhantes muitas vezes habitam corpos obesos, disformes ou anoréxicos. O equilíbrio é tão distante quanto nos diz o nome do CD póstumo do Renato Russo. E a perfeição se parece com quase todo o resto, como já dizia a letra de "Isolation", do Joy Division. Talvez por isso, na copa, a perfeita e loira raça superior tenha levado para casa o mesmo título que os negros das equipes de Gana e da Costa do Marfim. E até que os portugueses e aquela seleção com gostinho de feijoada brasileira. No fim, realmente, a perfeição se parece com quase todo o resto...

Mas chega de falar de futebol. É assunto que não entendo e não gosto. Recentemente ouvi "ecos racistas" no meu trabalho. Algum sussurro sobre "evitar negro em foto de jornal" ou "colocar pessoas bonitas nas fotos". Digo "ecos" e "sussurros" porque não me dignei a preencher meus ouvidos com tais comentários. Considero-os tão pequenos que se dissiparão nos ouvidos coletivos da rotina. Espero não estar errado. Caso contrário, terei muito com o que me preocupar...

Hesito em falar de racismo. É assunto tão óbvio quanto a letra de "Imagine" do John Lennon. Quem , em sã consciência, escreveria uma letra séria contrária a Imagine? Seria algo falando como seria bom um mundo cheio de guerras e pessoas com ódio, se matando. Só dá pra imaginar isso em letras de bandas como o "Manowar" ou alguma outra tranqueira do Heavy Metal. Mas aí não é sério. É só pose para mostrar superioridade e comer menininhas headbangers. Para eles funciona!

A miscigenação não é apenas histórica. Atinge proporções cósmicas. Afinal, como imaginamos o big bang, a origem da vida, senão como uma explosão de luz branca em meio à escuridão do universo? Feijoada...


Monday, July 17, 2006

KILL YOUR IDOLS

Maiakovski, um dos meus ídolos, já escreveu, no início do século passado: "Em algum lugar do mundo, talvez no Brasil, existe um homem feliz". Ele, que cometeu suicídio com apenas 36 anos, certamente não era. Recentemente descobri quem é esse homem. Só que não é brasileiro. E pensa em deixar o Brasil. De quem estou falando? Do Hans Donner, mais conhecido como o cara que criou o símbolo da Globo ou o marido da Globeleza (e põe globeleza nisso). Por motivos profissionais, por causa do jornal onde trabalho, recentemente falei com ele. Adorei a forma como demonstrou amor à vida e à sua mulher. Bacana mesmo. Mas ele me disse que pensa em deixar o país, por causa da violência. Pretende ir para a Europa e passar o resto dos dias da sua vida esquiando, com a mulher e os filhos. Mas aí, eu me pergunto: o que será do Brasil se perder o seu homem feliz? Será que todo mundo passará a morrer antes dos 40, com um tiro no peito, como Maiakovski? Pensei isso e, confesso, fiquei assustado...



Falando em morte, há um disco do Sonic Youth chamado "Kill your idols". Bem raro. Nunca vi. Nem sei como ou onde conseguir. Pois bem... recentemente venho descobrindo que não preciso matar meus ídolos. Eles morrem sozinhos. Há uns três anos, um cara que considero um dos melhores letristas do mundo, o Peter Hammill, sofreu um enfarte. Felizmente escapou e vem fazendo por onde valorizar o resto de vida que conquistou. Lançou três ótimos CDs. Recentemente, o cara da loja onde compro seus discos me disse que agora ele sofre de câncer. Não sei se é verdade. Espero que não. Mas se isso é boato, a recente morte de outro ídolo certamente não é. Tô falando do Syd Barret, do Pink Floyd. Tudo bem, o cara já tinha ficado louco de tudo há uns 30 anos, mas sei lá...agora morreu mesmo. E o Bush, filho da puta, vai bem, obrigado. Sem comentários...

Prefiro falar do Syd, ainda jovem, nos anos 60, distorcendo, com uma zippo, o som da guitarra, como....o Sonic Youth.

E queimar meus neurônios, antes que eles me queimem...

Ps - Recentemente minha ex-mulher me ligou, do telefone da minha antiga casa. Não consegui atender. Vi o telefone na memória do celular e fiquei tentando lembrar de quem era até que... puta que pariu, lembrei.... era meu mesmo. Outro dia me flagrei tentando enfiar o cartão do banco num orelhão, pensando que era cartão telefônico....

Pode rir....é foda mesmo...mas acho que alguma coisa não tá legal...

"Syd, numa boa, diz aí pra mim... não foi assim que você começou não, né?"

Monday, July 03, 2006

Vive La Fete - uma séria abordagem crítica do show







Resolvi atacar de gonzo. Para quem não sabe, em resumo, é aquela técnica jornalística do "foda-se o fato", o que importa mesmo é a sua visão e o que você quer dizer sobre o que viu. Pois é.... aqui vai meu noticiário gonzo sobre o show do Vive la Fete, que ocorreu em Sampa recentemente. Bacana!!! A vocalista parecia que tinha o capeta e queria explusá-lo do corpo dando chutes absurdos no ar. Foi bom. Tá aí.... Falei.

A essa altura dezenas de outros jornalistas queimam seus neurônios para explicar o que foi o show, se foi bom, se foi ruim, etc... Então serão dezenas de versões e eu já dei a minha. Tá mais do que bom.


Então... vamos ao que interessa... Ao que ninguém viu e ninguém vai comentar. Aliás, falando em ver...em show é foda ser baixinho. Aquele monte de cabeçudos na frente, impedindo a visão. Preciso inventar uma "escada show-vision-Tabajara" (homenagem ao Bussunda) para esses momentos. Mas.. o que ninguém viu e não vai comentar? Pois é.... sou eu atacando de paparazzi de anônimos. Como assim? Simples... os paparazzi procuram flagar momentos íntimos das celebridades. Mas, na intimidade, o que os "famosos" da platinada Globo possuem de mais interessante que qualquer um, além de dinheiro? Pois é... então resolvi dar um furo de reportagem e relatar a intimidade de desconhecidos. O método é tão bom e pouco danoso que se os próprios envolvidos lerem podem nem mesmo se reconhecer ou ficar em dúvida se realmente estou falando deles.
Aproveito e mando mais um petardo da minha quixotesca batalha contra xavequeiros (não tenho certeza se é assim, mas o dicionário diz que xavequeiro com "X" é pessoa de pouco valor, então tá valendo) de fim-de-semana. E não adianta falar que é implicância de tiozinho tímido e mal amado. Nem vem.... Quando tinha 18, 20 anos já achava isso um saco... um exercício do ridículo coroado pelo sem noção, exercido por quem apenas quer se agarrar e não sabe como sem uma desculpa."Então se agarra, porra!!!!!!" E não vai ser agora, com 30 e poucos, que vou mudar de idéia e querer virar o "galinhão da terceira idade". Devo estar errado e ninguém concorda comigo mas... foda-se. O máximo que pode me acontecer é acordar amanhã sozinho. Até aí.... nada de muito novo...

Pois bem.... exercendo o jornalismo-fofoca...

Passo número 1 - Escolher o foco da notícia. Essa é fácil. Basta pensar como o xavequeiro: com os olhos. Procurar uma garota bonita e sozinha... moleza. Se você encontrou, pode ter certeza.... dezenas de outros pares de olhos também. Aí ... é só esperar....

Passo número 2 - Manter-se a uma distância razoável na qual você possa prestar atenção na vida alheia, sem precisar desligar-se do show em questão. Afinal, foi para isso que você foi lá, não é? Para ver a banda e não para bisbilhotar os outros...

Passo número 3 - Quando o Ron Jeremy (nome fictício para designar nosso garanhão, em homenagem ao famoso ator pornô feioso-mas-bem-dotado dos anos 80 e 90) se aproximar, preste atenção na abordagem.

Passo número 4 (final) - Bisbilhote!!!!!


Resultado - Nesse caso específico, o show do Vive la fete, meu foco estava em duas garotas, que foram assediadas, respectivamente, pelo Ron Jeremy e seu inseparável amigo Tom Byron. Minha bisbilhotice não captou o começo da empreitada. Mas absorvi frases-chaves (não, não é o Chaves mexicano, do isso, isso, isso, que, aliás, nem gosto...) do percurso. Captei coisas do tipo: "Aqui quem manda sou eu!!!" Muito boa, levando-se em consideração que estavamos em uma danceteria lotada, com umas mil pessoas se espremendo, inclusive o tal fodão. Outra: "Durante meus anos na Europa, certa vez, na Espanha...." Cara bacana... Muito importante frisar isso. Afinal, quando conhecemos alguém, uma das primeiras perguntas, depois do nome, é "Você já viveu na Europa ou é um Zé Mané de Artur Alvim?".
Perdi o final da empreitada xavequeira, tentando encontrar um lugar melhor para ver o palco, desviando um pouco dos "cabeçudos". Mas, tudo bem... Como bom paparazzi, o que importa não é o fim ou o fato, mas o "flash", o instantâneo. Nesse ponto, minha missão já estava perfeitamente cumprida.
A situação me fez lembrar de um amigo, metalúrgico, que uma vez disse: "Para comer uma mulher, se for preciso, falo até que sou piloto de fórmula 1". Ouvi isso há uns dez anos e a frase nunca saiu da cabeça. Continua atual...
Nas selvas, os leões continuam rugindo cada vez mais alto para atrair suas fêmeas. Os pavões mostram suas penas coloridas.. Não somos muito diferentes...Qualquer dia quem sabe eu resolva testar e convide alguém para conhecer a estação LUNAR que possuo no oitavo ANEL de PLUTÃO....

Talvez eu é que seja mesmo esquisito... Se for.... como diria Hunter S. Thompson, o pai do jornalismo gonzo.... "Quando as coisas tornam-se estranhas, os estranhos se tornam profissionais...." Pode crer!!!!!

AAAAAAAHHHHHHHH, ia esquecendo........

Só para completar.... Para ilustrar minha cobertura gonza, aqui vai uma tira do
"Liberty Meadows", que é um cartoon americano muito bacana, que retrata um retiro de animais... Os personagem principais são uma veterinária chamada Brandy, um veterinário "nerd-de-centro-esquerda" chamado Frank (que paga um pau pra ela), uma amiga que divide um apê com ela e os animais, todos com nomes, características e personalidades muito peculiares. Esse aí da tirinha (junto com a amiga da Brandy) é o Dean que é, literalmente, um "porco chauvinista".



E como diria a letra profunda daquela música legal do Manfred Mann: "Do wah diddy, diddy wah, diddy do, yeahhh".