Ácido Ameno

Thursday, November 16, 2006

DEVORISMO (ou darwinismo, sei lá...)


Tenho pensado, ultimamente, em pérolas...Mensagens escondidas, o código da bíblia, frases, metais brilhantes que enferrujam, cópias monetárias... Falsidades,
"fakes" de um "mundo Denorex"- parece, mas não é (propaganda velha, que só tiozinho lembra). O mundo corre, quer alcançar a velocidade da luz... descobrir se é possível imprimir mais dinheiro que a capacidade das pessoas em gastar, divulgar mais informações do que o cérebro pode assimilar, dançar mais rápido e separado para não perder tempo com abraços, olhar menos e tocar mais, mais tecno e menos trance, e mais e mais e mais...até diluir e esvaecer. Tudo que é sólido se dissipa no ar, dizia o título do livro "não lembro e não tenho tempo de lembrar de quem".
Agora mesmo. Paro, escrevo. Mas só para mim mesmo. Não penso otimista, de que alguém vai perder tempo lendo. Já foram muitas frases e o ponteiro dos segundos é implacável. Penso nas pessoas, que se consomem, ávidas velozes e ferozes, famintamente fartas, se devorando no MacDonald's humano. Torço pelas pérolas, no fundo do oceano, com seu brilho insone, estático...Cansei do brilho imediato. De descobrir que o sorriso lindo da garota é apenas a risada fácil de uma hiena. Hoje a esperteza vale mais que a inteligência e a aparência mais que o conteúdo. E isso nem seria tão errado se não fosse consumido tão sem perceber... Alguém precisa parar o ponteiro dos segundos, travar o passo... e respirar.
Cansei de quem tem opinião de tudo e não conhece nada, porque perde tempo demais dando opiniões. Para ter valor, alguém precisa brilhar...E um brilho automático, de instante. Só existem a beleza estonteante e a frase certeira. A "pegada" sobrepuja o toque. Desenterrar tesouros é coisa velha, de filme da "Sessão da tarde". Os tesouros de hoje precisam estar em "banda larga", mesmo que sejam apenas ferrugens clareadas em "photoshop". Avidez, internet, devorismo...


GOYA - Kronos


PENSAMENTO DO DIA:
"Perto de um MacDonalds sempre haverá uma academia de ginástica."
(cada grama adquirido em um pode ser eliminado no outro. Basta acumular dinheiro bastante para poder gastar nos dois). Perfect!!!


Saturday, November 11, 2006

LONELY...(ou Uma coisa é uma coisa;outra coisa é outra coisa)









"Lonely is an Eyesore", algo como "Solidão é dor na vista", já dizia o título da coletânea britânica de bandas tristes dos anos 80. Ainda me lembro quando o disco ainda era novidade. Foi por ele que conheci uma das bandas que se tornou uma das minhas preferidas desde sempre: o Dead Can Dance. Conheci pela TV, na madrugada adolescente de um sábado, quando vi o clip de "The protagonist", música registrada apenas na tal coletânea. O que era aquilo? Fiquei imaginando quem poderia ter gravado aquela música instrumental, mórbida e triste, cheia de cellos e metais. Em um primeiro momento pensei em Vangelis, mas não tinha muito a ver... "O cara é tecladista, pô!!!!". E não torçam o nariz se acharem que o grego é apenas o autor da melosa "Chariots of fire", ou "a trilha sonora de qualquer olimpíada ou corrida de São Silvestre nossa de cada ano". Alguns discos do cara são bem densos e bacanas e não mereciam ficar datados com bichogrilagem dos anos 70. Um pelo menos, chamado "Heaven and Hell", ainda acho bem relevante....


Mas, voltando ao "Protagonist", do Dead Can Dance... Quem faria um clipe daqueles, naqueles anos 80 cheios de laquês e cabelos coloridos e ombreiras? Um cara nu, se afogando, em uma praia deserta... Mesmo hoje, consigo imaginar apenas duas bandas capazes de um clipe daqueles... Radiohead e Sigur Ros. O Sigur Ros, inclusive, chegou a fazer um clipe com alguém se afogando, mas é salva por outra pessoa, ao contrário do protagonista do Dead Can Dance. Mas tudo bem... o Sigur Ros também já ousou fazer clipes só com crianças portadoras da síndrome de down dançando, vestidos de anjos, e com meninos adolescentes descobrindo a própria homossexualidade. Enfim... abusos típicos da música pop islandesa (Bjork que o diga...). Os meninos tristes de hoje, os "emos", jamais ouviriam aquilo. Seus ídolos jamais gravariam algo como "The protagonist". E não ouviriam Dead Can Dance. Como não ouvem Sigur Ros.

E falando em cabelos negros, curtos e lisos, recentemente revi "A liberdade é azul", o filme mais triste da triste trilogia das cores (junto com "A igualdade é branca" e "A fraternidade é vermelha". Se os emos fossem realmente sérios e tristes, diria que a Juliette Binoche, em "A liberdade é azul"

seria a precursora do "movimento". Mas também acho o nome do filme equivocado. Acho que a "liberdade" do filme serve apenas para completar a referência ao lema (igualdade, liberdade e fraternidade) e cores (branca, azul e vermelha) da bandeira da França. Desde quando perder toda a família em um acidente de carro e passar o resto dos dias dormindo em no colchão de um apartamento solitário, vendo ratos procriando, pode ser chamado de "liberdade"? Para mim é apenas solidão. Nem liberdade, nem dor na vista, apenas solidão...

Feitas as devidas ressalvas, acho que o filme devia se chamar "A solidão é azul" e não "A liberdade..." Quanto à coletânea britânica de bandas tristres dos anos 80, digo que se solidão fosse dor na vista, oculista receitava Valium, não óculos...

DEAD CAN DANCE