Ácido Ameno

Sunday, September 21, 2008

POEMA MINUTO 6

Ontem
andei assustado.
Mas também sorri,
andando na companhia de uma mulher.

Ando tão só pelas ruas
que sei
que quando morrer
serei um fantasma tão bem ajustado
quanto fui desajustado em vida,
por força de compensação.

Andando
não chego a lugar algum.
Ontem andei só.
Mas só andei

POEMA MINUTO 5

Poderia
vomitar solidão
como vinho barato?


O corpo
rumina a alma.

A ressaca seca
resseca
vinagre ácrido.

Por sua causa
homens sem credos
sussurram segredos
e rastejam,
bêbados, trôpegos e túrgidos,
por cantos escuros das ruas.
Inúteis
feito baratas.

POEMA MINUTO 4

Como o filete de sangue
a escorrer da narina
após o excesso
da droga hedonista.


Como
a leveza do espaço
após a tensão
do espasmo
que procede
a sensação do orgasmo...

Como
o terror que inspiram
os olhos estranhos
do homem parado
na próxima esquina...


frágil
é o corpo
parado
no meio da rua,
no último instante,
diante do carro
que, veloz,
se aproxima

Sunday, September 07, 2008

POEMA MINUTO 3

Sinto
minha mente tão grande
que não cabe
neste corpo pequeno.
Por isto engordei,
nestes últimos anos...
Por isto escrevo...
para emagrecer.
Preciso ser frágil,
para tornar-me forte.

POEMA MINUTO 2

Como posso querer semear poemas
sem alguém para quem possa
escrever sobre o amor?
Embora o sinta, em silêncio,
cansado e opresso,
sem esperança e encolhido,
morrendo de inanição...

LEONARD COHEN

Esta, pela primeira vez, não é minha....é de um senhor canadense, de 73 anos, que admiro muito...

AS FLORES QUE DEIXEI NO CHÃO

As flores que deixei no chão,
as que não colhi para você,
hoje trago todas de volta,
para que elas cresçam para sempre,
não em poemas ou em mármore,
mas aonde elas caiam e apodreçam.


E os navios em seus notáveis acasos,
imensos e perecíveis como os heróis,
navios que não seria capaz de comandar,
hoje eu os trago de volta,
para que eles naveguem para sempre,
não em miniaturas ou em canções,
mas onde eles se ponham à pique e afundem.


E o menino em cujos braços eu me pus,
de quem o tempo eu purguei
com disciplina majestosa e pública,
hoje eu trago de volta
para enfraquecer para sempre,
não em confissões ou em biografias,
mas onde ele floresça,
crescendo furtivo e cabeludo.


Não é malícia o que me conduz
o que me leva a renunciar, a trair:
é exaustão, eu tendo a te exaurir.
Ouro, marfim, carne, amor, Deus, sangue, lua -
Sou um especialista neste catálogo.

Meu corpo que já conheceu tão bem a glória,
agora é um museu:
essa parte reconheço por causa de uma boca,
essa outra por causa de uma mão,
essa por umidade, essa por calor.


Quem pode possuir o que não criou ?
Estou tão alheio à sua beleza
quanto a crinas de cavalos e cachoeiras.
Esse é o meu último catálogo.
Eu já respiro o irrespirável.
Eu te amo, eu te amo -
E deixo você avançar para sempre.

LEONARD COHEN

POEMA MINUTO 1

A quem deseja
disputar espaços comigo,
digo apenas:
"Não quero mandar mais que você...
apenas ser mais atendido".

É esta
a base da sagração....
Falar muito
e dizer pouco
é fácil.
Difícil
é falar pouco
e dizer muito.