Ácido Ameno

Thursday, June 19, 2008

DUETOS

Nem ia colocar isso aqui, mas como este mês teve o dia dos namorados, aí vai:

Mesmo
que ainda só,
tateando letras no ar,
peço emprestado
teu nome
por um segundo,
apenas para compor
um poema
que cante, de par em par,
a força do amor vivido
e não somente almejado.
Prometo que já devolvo.

Apenas para começar
celebro o amor
anti-burguês.
Seja, então, Lili Brick.
E, aos 35,
sou novamente Maiakovsky,
chegando aos fatídicos 36.
Mas não,
Desta vez não.
Não vou, não quero
viver, de novo,
um velho novo suicídio.
Ou seja então Beatriz.
E mesmo
na ausência de Virgílio,
faça de mim o seu Dante
e me guie, novamente,
ao paraíso.
Não o paraíso perdido de Milton.
Mas o paraíso perdido de Adão.

Se preferir,
seja, então, a própria Eva.

Seja, então,
Simone de Beauvoir.
E, como tal,
apenas por um instante,
seja distante,
mas seja minha,
mesmo que não seja.
Não importa.
Morando
do outro lado da rua
ou do mundo.
Sem você
é a inexistência que precede a essência,
para este Sartre ao avesso.


Seja também
Minha Nancy
Para este Syd sem vícios.
Ou pelo menos Kim Gordon
de um Thurston Moore sem guitarras.


Seja Cleópatra
deste Cezar
que não é Júlio,
mas conquistaria o mundo
apenas
pra te agradar.

Quero ser Amado
como foi Jorge
pela esposa Zélia.
Por toda a vida.
Como Mickey e Minnie.
Bony e Clyde.
Ou apenas por um instante,
como Jagger e Bowie.

E se, em algum lugar,
ainda
existe alguém
também
com a alma na escrita
e os olhos no mundo,
evoluo....
deixo
de ser girino
e me torno macaco.


Sofro
de um coração errante
perdido
de bar em bar
e que erra tanto
que, a cada instante,
vê o mesmo semblante
no rosto
de cada mulher.


Mesmo revivendo
cada amor impossível
como aquele
"que não ousa dizer seu nome".
Wilde e Bosey.
Verlaine e Rimbaud.

O encontro
de almas tão semelhantes
ainda
que em sexos diferentes.
Mas que, infelizmente,
embora risível,
não se torna
menos impossível.
Baudelaire
e Jane Durval.

Desejasse
ser minha Matilde,
seria eu seu Neruda,
fugindo,
por anos e anos,
de país em país,
de repressores
escravagistas americanos.
Ou desejasse
ser Maria Kodama
guiando
este Borges cego
pela biblioteca infinita da vida.

Mas não.
Sou apenas eu
Neste triste eu.
Que não toca ou alcança
você.

E então
me torno o amor
das paixões abstratas
pela ausência da coisa real.
A garrafa
nas mãos de Edgar Allan Poe.
A morfina
confortando Burroughs
ou apenas
uma lâmina
luminosa
cortando a esperança
em pequenos pedaços de sonho.


Às vezes me canso
de acordar
abraçado a mim mesmo
e apenas quero
dormir novamente.
E sou apenas K
condenado
e aprisionado
a este corpo
sem ao menos
saber o porquê.


E quando te abraço
em alguma lembrança esquecida
você se transforma
em fumaça sem vida,
despida nas sombras.
Apenas vestida
pelo mesmo cigarro
com o qual
Maiakovsky traça
o vestido
de sua Lili Brick.


E agora?
Em simbiose,
como um ser condenado
me sinto apenas
um sinal ou uma marca,
cravado em um corpo
que não é meu.
E se tento falar
sobre
os sentimentos mais puros
me sinto em apuros,
pois são dos teus poros
que saem as palavras.

Perdi a cabeça.
E, com isto, estatura.
E só então alguém disse
que o homem pequeno
não merece a mulher.
Fiquei, então,
em pé na privada
e pensei a respeito.
Definitivamente,
nem eu
nem o mundo
mudamos muito com isto.


Sei
que tudo é possível
(exceto o que não é)
e que a felicidade existe.
Mas, em alguns casos, se está acessível,
é brinquedo de outros.
Kinder ovo sem brinde...
Bilhete vencido...
Manteiga sem sal...
Coca Light....


E se passo outra noite
abraçado
à própria estatura,
como Alexander Pope,
canto, como ele,
as madeixas da criatura.
"Brilho eterno de uma mente sem lembranças.
Toda prece é ouvida, toda graça se alcança,
blábláblá, etc..."

Me sinto
um gigante contido
no limitado espaço do corpo.

E te beijo,
com ternura,
em sombras e sonhos.
E sinto sua falta.
Seca e
dolorosamente.
Sem rimas
ou aliterações.


Meu sonho
disperso no espaço,
para ter forma e consistência,
e, enfim, ser moldado,
te pede um abraço.
E se teu nome
ali está,
escondido,
no som das palavras
pouco importa,
quando a verdade
está morta.

Então viva a mentira
das duplas imaginárias
e seja minha Helena,
rainha de Tróia.
Que eu, como Heitor,
serei apenas
teu irmão.

Espada na mão,
combatendo, se necessário,
um exército de desejos,
com as graças de Zeus.


E seja Marge
de um Homer homérico,
pagando mil micos,
enfrentando mil gregos
ou redigindo mil textos,
mais confusos que as batalhas da Ilíada.
Apenas falando
sobre
os incompletos sentimentos
da vida.

Quem ama
é Deus e possui o mundo.
Sem ele
somos apenas
o corpo de Cristo.
Crucificado,
vazio
e sem vida.














Maiakovsky e Lily














Neruda e Matilde













Borges e Maria












Sartre e Simone











Wilde e Bosey














Rimbaud e Verlaine















Jagger e Bowie













Bonnye e Clyde













Syd e Nancy














Kim Gordon e Thruston Moore













Adão e Eva














Dante e Beatriz













Mickey e Minnie













Homer e Margie










Jorge e Zélia







Burroughs e "umzinho"